Cinema: As escolhas da semana [vídeo

Para ver no grande ecrã nesta semana o SOL sugere os filmes Filomena, de Stephen Frears, e Quando tudo está perdido, de J.C. Chandor.

Filomena

De Stephen Frears,

com Judi Dench, Steve Coogan

Quando uma jovem irlandesa engravida nos anos 50 de um homem que não é – nem faz tenção de vir a ser – seu marido, é atirada pela família para um convento. Ali, juntamente com outras raparigas na mesma situação, dará à luz e trabalhará como escrava para ressarcir as freiras pelo trabalho de cuidarem dela e da criança, com a qual só lhe é permitido estar uma hora por dia, e que acabará por ser vendida a um casal americano.

Encontramos Filomena 50 anos depois – numa maravilhosa interpretação de Judi Dench – uma mulher que carregou este segredo toda a vida e que por fim decidiu contá-lo, não só à filha como ao mundo, na esperança de reencontrar o filho que lhe foi tirado. Vai ser Martin Sixsmith, um conceituado jornalista político caído em desgraça depois de assessorar Tony Blair, que pegará na história ‘de interesse humano’ e levará Filomena, uma mulher simples, leitora de Reader’s Digest e novelas de cordel, por uma viagem pela América: ela em busca de um filho, ele em busca de uma história.

Escrito, realizado e interpretado com mestria, Filomena é um filme sublime, história de perdão que foge do sentimentalismo fácil para conferir dignidade e humanidade a estas personagens que fogem dos clichés. E enquanto denuncia os horrores perpetrados às mulheres a meio do séc. XX em nome de um conservadorismo e uma religiosidade levados ao extremo, Filomena consegue ainda tocar em temas como a homofobia, a fé, e os erros políticos na luta contra a sida, sem nunca ser impositivo.

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Quando tudo está perdido

De J.C. Chandor

com Robert Redford

É um tour de force esta interpretação de Robert Redford, aos 77 anos, em Quando Tudo Está Perdido, o filme de J.C. Chandor que passou relativamente despercebido em Cannes e foi agora injustamente ignorado na corrida aos Óscares. Talvez seja difícil enquadrá-lo nos parâmetros de Hollywood. É pena. Este é um filme original, surpreendente, bem realizado e muitíssimo bem interpretado, que perdurará na memória quando outros se esfumarem.

Um homem acorda no seu veleiro, no meio de um plácido Oceano Índico, para descobrir que um contentor embateu contra o seu barco fazendo-lhe um buraco no casco. O que se segue será a luta pela sobrevivência deste homem sozinho à deriva no mar, primeiro num veleiro esburaco, depois num pequeno salva-vidas insuflável. Para um filme de acção, não poderia ser mais despojado: o homem não tem nome nem passado (não há introduções ou flashbacks, não sabemos quem é, de onde vem, se tem família em que pensar), não há diálogos nem recurso ao monólogo, e raros são os efeitos especiais. Redford mostra o excelente actor que é naquela que será uma das mais duras – e memoráveis – interpretações da sua carreira. Quais os limites de um actor e quais os limites de um homem?, são as questões que se impõem num filme que só peca pelo final ambíguo, numa aparente tentativa de agradar às massas.

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Rita.s.freire@sol.pt