Dito&Feito

Não é fácil perceber a lógica. Mas tentemos. Rui Tavares, eleito eurodeputado pelo Bloco de Esquerda em 2009, rompeu com o partido em 2011 e criou agora o Partido Livre, que visa um entendimento nas eleições europeias… com o Bloco. Daniel Oliveira, ex-militante bloquista, também se afastou do partido e ergueu entretanto o Movimento 3D,…

Ou seja, a esquerda bloquista e seus derivados divide-se cada vez mais – em grupos, movimentos e minipartidos – com o intuito único de estar cada vez mais unida. Confusos? “É preciso que nos libertemos primeiro”, explica Rui Tavares, sem especificar a que prisões estava amarrado, “para nos unirmos mais tarde”. Simples.

Aacentuar o ambiente de unidade que se respira nesta esquerda bloquista, Francisco Louçã veio pedir desculpa ao eleitorado do BE por ter incluído, em 2009, Rui Tavares na lista às europeias e concluir que, afinal, este “prefere a sua carreira pessoal ao compromisso com os eleitores”. E Tavares retribuiu, para lamentar “a cegueira e o ódio pessoal” de Louçã. Uma edificante troca de mimos sempre em espírito muito unitário e fraternal.

Se querem tanto juntar-se porque se separaram antes? Se desejam a unidade porque continuam a dividir-se em capelinhas de vaidades e grupinhos paroquiais? Tudo isto faz lembrar a pulverização de grupúsculos esquerdistas, que concorriam furiosamente entre si, por altura do 25 de Abril de 1974. O Bloco de Esquerda levou 25 anos a conseguir ultrapassar essa fase e a aparecer ao eleitorado como o resultado da convergência de diversas correntes políticas e do esforço de unidade à esquerda. Agora, pelos vistos, esgotado o modelo político, será bastante mais rápida a sua desintegração e esvaziamento eleitoral.

O novo Partido Livre lamenta que, mais uma vez, “a direita vai junta” às eleições e “a esquerda dividida”. Ainda se admiram?

jal@sol.pt