A Cosa Nostra, a máfia siciliana, é antiga, e a sua origem prende-se com o relativo absentismo do poder central. Na ilha, as funções do Estado, distante e ausente, começaram a ser exercidas pelos uomini d’honore locais, criando uma espécie de feudalismo que progressivamente se transformou num negócio tutelado pelo silêncio e pela violência.
Nos princípios do fascismo, Mussolini encarregou o prefeito Cesare Mori de combater a máfia. Mori usou de poderes excepcionais, prendeu milhares de suspeitos e retirou aos mafiosos o poder de aliciamento e intimidação. Fê-lo em cinco anos, reduzindo a máfia à expressão mais simples. Nas vésperas do desembarque da Sicília, agentes da Intelligence americana negociaram com Lucky Luciano, um dos patrões da Cosa Nostra, então preso nos EUA, o apoio da máfia ao desembarque aliado. Graças à cumplicidade e aos bons serviços prestados, os mafiosos voltaram no pós-guerra, estabelecendo ligações com alguns políticos, em especial da Democracia Cristã.
Foi esta tríade crime/mundo empresarial/políticos sicilianos que serviu de sustentáculo aos negócios da máfia – extorsão, tráfico de influências, contrabando de cigarros, drogas, lixos – e lhe permitiu a eliminação de inimigos e concorrentes. Para tomar o poder, o bando dos Corleonesi iniciou uma guerra impiedosa contra as outras famílias. Famílias que, para Riina, eram os burgueses do crime, enquanto eles, os Corleonesi, ‘vinham da fome’.
Básico, brutal, misto de homem de família austero e assassino paranóico, com os seus inseparáveis de sempre, Bernardo Provenzano e Calogero Bagarella, Riina conquistou e consolidou a chefia. Depois de eliminar os rivais, os Corleonesi enfrentaram-se com o Estado e os seus representantes – políticos, magistrados, polícias.
Foi este radicalismo que os desgraçou. Quando Tomaso Busceta, um dos capi refugiados no Brasil, foi extraditado para Itália e confessou-se ao juiz Giovanni Falcone, tudo mudou: foi aberto o ‘Maxi Processo’, que implicava centenas de mafiosos. Em retaliação, Riina mandou matar Falcone e Paolo Borselino, os dois expoentes da luta antimáfia, como antes matara o general de la Chiesa.
Riina assustava tudo e todos, incluindo os companheiros. Em 1993, depois de quase 20 anos de clandestinidade, sempre em Palermo, foi capturado, julgado e condenado a várias penas de prisão perpétua.
É a vida de Riina que conta a minissérie (6 episódios, 9 horas) Il Capo dei Capi (2007), dirigida por Alexis Cahill e Enzo Monteleone. Claudio Gioè, também ele siciliano, é magnífico no papel de Riina.