Sem solução

A morte do actor norte-americano Philip Seymour Hoffman apanhou o mundo de surpresa. Muitas pessoas, entre as quais me incluo, pouco ou nada sabiam sobre a sua vida pessoal e sobre a sua dependência de álcool e drogas. Foi, talvez por isso, ou por causa da idade ainda jovem quando se fala do fim da…

As reacções não são menos verdadeiras quando são superficiais. Ninguém esperava esta morte súbita, pouco digna até, se se confirmar que morreu com uma seringa sordidamente espetada no braço. Ninguém que estivesse só feliz com as representações generosas que nos dava, por vezes até em filmes pouco convincentes. Os últimos dias repletos de informações trataram de colocar a verdade no seu lugar, mostrando uma vida atormentada, uma disposição para a dependência e para a destruição. É como se tivesse resolvido dar por terminado o seu tempo, sabendo que a sua vida não podia terminar doutra forma.

Talvez sim, talvez não

Um estudo desmistificador foi realizado na Universidade de Stanford. Os resultados consideram a fofoquice benéfica, eliminando deste modo a ideia de que a exclusão social que provoca seja maliciosa. Pelo contrário, falar da vida alheia promove a colaboração entre colegas, denuncia as injustiças, além de revelar as personalidades egocêntricas e as que não são de confiança. Um ambiente de trabalho fofoqueiro, por assim dizer, estabelece vínculos de cumplicidade ao ponto de os sujeitos dessas fofocas mudarem de atitude para contrariarem a má impressão dada ao grupo. Se pensarmos que não há fogo sem bisbilhotice, vemos que há bastante verdade nesta conclusão académica. Porém, num ambiente que não seja de laboratório, podemos chegar a ter dúvidas sobre a sinceridade do fofoqueiro. O que nos leva ao eterno problema empírico de só o facto de observar nos levar a mudar o objecto de estudo. Pelo sim, pelo não, continuo a não gostar de fofoqueiros.

Gripe e mais gripe

Todos os anos, nos últimos cinco ou seis anos, a gripe parece ter contornos mais agressivos. Não só ficamos engripados mais vezes, como ficamos de cama, com febres altas como na infância. Dizem-nos que os vírus são mais resistentes, que há estirpes ou variantes novas que têm uma força que a simples constipação deixou de ter. Está mais frio, dizem, o ambiente está mais poluído, adiantam, esta, sim, é que é a gripe A, arriscam. Sabemos histórias de terror sobre pessoas que nunca ficam doentes, ‘mas este ano, sabes lá’, como se tivesse chegado um exército de vírus parecidos com pequenos gremlins em constante reprodução, difíceis de combater. A venda de medicamentos contra a gripe aumenta, o tempo passa e ficamos melhores. Mas pouco depois chega uma nova dose, mais febre, mais dores, tosse e o nariz que não dá sossego. Desde quando a gripe se tornou um estado crónico? Deviam escrever uma biografia da doença. Acho que comprava. Mas só no Inverno.

Provavelmente inocente

A carta de Dylan Farrow, filha adoptiva de Mia Farrow e Woody Allen, publicada no New York Times, em que acusa o realizador de a ter abusado quando tinha sete anos, é de uma violência sem paralelo. É certo que hoje em dia pouco do que se publica choca os leitores, mas esta carta de uma rapariga destruída aos 28 anos merece análise policial. Não sabemos o que se passou entre Woody Allen e a filha adoptiva, se é que se passou, mas sabemos do que Mia Farrow é capaz. Quem não se casava com esta mulher era eu. Ainda há meses anunciou que o filho, Ronan Farrow, era filho de Frank Sinatra, o que significa que Mia Farrow teria engravidado do ex-marido estando casada com Woody Allen. Não sabemos, repito, o que se passou, mas lembremos que Woody Allen não foi acusado como Roman Polanski. Quando foi interrogado, nada indicou que tivesse cometido um crime. Cuidado com a ânsia acusatória, tão amiga da injustiça. É preferível enganarmo-nos ao contrário.

Últimos sobreviventes

Matthew Fishbane, editor do jornal online Tablet, e o fotógrafo Jason Florio fizeram um trabalho comovente ao retratar alguns sobreviventes do Holocausto. Chama-se Soon There Will Be No Survivors (Em Breve Não Haverá Sobreviventes). É uma realidade que a humanidade, com mais ou menos empenho, homenageia os mortos com monumentos, minutos de silêncio, panteões e até parques. Porém, também houve quem tivesse sobrevivido, na sua maioria por mero acaso ou sorte. O tempo passa e lembramos os que pereceram. Pela rotina que a presença diária produz, esquecemo-nos dos vivos. Só nos Estados Unidos existem milhares de sobreviventes dos campos de concentração. Quase metade vive em condições de pobreza extrema. Quando foram libertados tinham menos de vinte anos. Não fazemos ideia de como estas pessoas ficaram marcadas no seu mais íntimo ser por tamanha provação. Daqui a pouco, não haverá mais sobreviventes, não só do horror do passado como da indiferença do presente.