“Como é que costumamos dizer?”, pergunta Patrícia Pinto, instrutora de zumba no ginásio Virgin Active Palácio SottoMayor. “No zumba não há vergonha!”, respondem os alunos, num tom entusiasta. Mal começam os primeiros acordes de uma música latina, os sorrisos e a alegria tomam forma em movimento de ancas, de pernas e olhares de cumplicidade entre colegas. É precisamente este espírito de diversão e convivência que caracteriza o zumba. “A filosofia do zumba é uma aula de fitness mas fácil de acompanhar e divertida, e o que é certo é que as pessoas se divertem”, explica Patrícia, instrutora no ginásio que pertence ao Grupo Virgin, de Richard Branson, um dos quatro espaços existentes em Portugal.
A criação desta modalidade deu-se por acaso. No final dos anos 80, ‘Beto’ Pérez era mais um instrutor de fitness na sua cidade natal, Cali, na Colômbia. Um dia que se previa idêntico a qualquer outro – a dar aulas de aeróbica -, acabou por ser o início de uma viagem que iria mudar a sua vida por completo. Ao esquecer-se das músicas que habitualmente usava para as aulas, Beto Pérez teve de recorrer ao que tinha à mão: uma cassete com ritmos de salsa e merengue. A banda sonora foi um sucesso e assim nasceu o zumba. Uma aula que mistura fitness com dança baseada em quatro estilos: a salsa, o merengue, o reggaeton e a cúmbia, música tradicional da Colômbia. “A base do zumba é um trabalho cardiovascular através de ritmos latinos, diversificados e que sejam fáceis de acompanhar”, refere Patrícia.
Depois de uma carreira como instrutor e coreógrafo no seu país, Pérez decidiu ir atrás do sonho americano, mudando-se para os Estados Unidos em 1999. Em 2001 já se encontrava em Miami, quando o sucesso das suas aulas chegou aos ouvidos de Alberto Perlman, cuja mãe descrevia as aulas de Pérez como as únicas em que tinha participado que não pareciam exercício físico, mas sim diversão.
Na altura, tanto Perlman como o seu amigo de infância Alberto Aghion estavam desempregados e à procura de novos desafios. Perlman foi assitir a uma aula de Pérez, onde estavam mais de 100 praticantes. “As pessoas gritavam e sorriam. Ninguém parecia cansado. Ninguém mostrava estar com dores e pensei: ‘Temos de fazer alguma coisa com isto’“, disse Perlman em entrevista a uma revista norte-americana.
Os ‘três Albertos’ fundaram a Zumba Fitness em 2001. Hoje a empresa está avaliada em cerca de 400 milhões de dólares (perto de 300 milhões de euros) e conta com mais 14 milhões de fãs em 185 países, entre os quais celebridades como Victoria Beckham, Jennifer López e a princesa Letizia de Espanha. “Há uma aposta no zumba como um produto de fitness, como uma marca registada”, explica Patrícia Pinto.
‘Saímos com outro ânimo’
Passada mais de uma década sobre a sua criação, o zumba conta cerca de nove ‘variantes’, além da modalidade original. O zumba toning, feito com pesos; o aqua zumba, realizado dentro de água; o zumba sentado; o zumba gold, para os mais velhos, e o zumba kids, para crianças entre os sete e os onze anos; e o zumbini, para os mais pequenos, até aos três anos.
Em Portugal, o boom da modalidade deu-se nos anos 2010/2011 – assim que os ginásios começaram adoptá-la, conheceu rapidamente um enorme sucesso. Nos inquéritos de satisfação aos clientes do ginásio Solinca, o zumba, que foi introduzido em 2012, “está sempre no top 5. É uma aula de que as pessoas gostam, feminina e que tem uma grande adesão porque é livre, não há constrangimentos e estão à vontade”, explica José Teixeira, director de operações do Solinca Health & Fitness, – que conta com onze ginásios em todo o país -, acrescentando que se vive um grande sentimento de comunidade nestas aulas. Que o diga Aldemi, de 34 anos, de nacionalidade brasileira: “Antigamente não tinha muitos amigos. Agora, com o zumba, comecei dar-me com mais pessoas. Divertimo-nos, brincamos, sorrimos e saímos daqui com outro ânimo”.
Diversão que queima calorias
A noção de que o zumba é um negócio não está na cabeça dos seus praticantes. Na aula da hora de almoço de quinta-feira no Virgin, a boa disposição e a descontracção notam-se nas expressões dos alunos assim que começam a entrar e aumenta assim que a instrutora coloca a música. Mal dá para acreditar que os alunos se preparam para 50 minutos de exercício físico. “Eu acordo mais bem-disposta à segunda-feira de manhã porque sei que vou ter zumba à hora de almoço”, conta Marta Santos, de 37 anos. “Às vezes, a Patrícia pergunta: ‘Está tudo bem-disposto?’ e eu tenho vontade de responder ‘Agora sim’“. A aula é composta maioritariamente por um grupo de mulheres entre os 30 e os 50 anos. Fala-se pouco. A professora vai fazendo a coreografia enquanto os alunos tentam acompanhar. “A dança é uma linguagem universal”, acrescenta Patrícia.
As músicas latinas dominam o repertório e certas coreografias parecem já estar na memória de alguns alunos, que mal olham para a professora enquanto dançam. Há momentos em que Patrícia baixa a música para ouvir os alunos cantar.
Quem também ficou fã desta modalidade foi Marta Martins, de 33 anos, que ouviu falar do zumba através de uma prima que vive no Canadá. “Eu sempre gostei de dançar mas odiava ginásios. Já tinha ouvido falar no zumba e fiquei a saber que havia aqui. Vim experimentar uma aula e com a Patrícia é irresistível”.
Dois senhores destacam-se no meio de tanto estrogénio. Um deles é Armando Gomes, de 62 anos, que pratica a modalidade há cerca de um ano. “A ideia era perder peso depois de ter deixado de fumar e acho que o zumba é uma óptima maneira de o fazer”.
Com a difusão por todo o mundo, o zumba foi adoptando outros estilos musicais como o samba, o reggae ou as músicas de Bollywood. Independentemente dos estilos escolhidos pelos instrutores, as aulas procuram ser adaptadas às necessidades e dificuldades dos alunos. “Consoante o público-alvo, procuramos adaptar a coreografia de modo a que fique mais acessível. Assim o aluno fica estimulado, transpira e consegue perder peso”, explica William, de nacionalidade brasileira, que, juntamente com o seu irmão gémeo Wesley, forma a dupla de instrutores conhecida por Gémeos Zumba. Dez minutos antes do início da aula que leccionam no Holmes Place na Avenida 5 de Outubro – um dos 19 espaços da cadeia em Portugal continental e Madeira -, já há fila à porta da sala. As raparigas vão falando entre si enquanto esperam que os gémeos abram a porta e começam a recolher as senhas. As senhas esgotaram para esta aula: estão 29 mulheres e um homem numa sessão de zumba às oito da noite numa sexta-feira. “Temos pessoas em espera para fazer a aula. Isso mostra o respeito que estamos a ganhar em relação ao público. Custa-nos muito não deixar as pessoas entrarem”, refere William. O irmão acrescenta: “Às vezes ponho mais dez pessoas na sala porque não quero deixar ninguém de fora”.
As coreografias são familiares a muitas das alunas. A facilidade com que acompanham e até antecipam os passos transparece a frequência com que vêm às aulas. Isto sem falar nos gritos que dão quando ouvem os primeiros sons de uma música de que gostam ou o entusiasmo com que vão cantando as músicas enquanto dançam, especialmente no caso das músicas brasileiras.
Quem se rendeu por completo à modalidade foi Andreia, uma professora de dança que começou como colega de William. Depois de experimentar uma aula, nunca mais quis outra coisa. Hoje em dia, com 30 anos, é instrutora. “Além de agora ser a maior parte da minha vida, para mim zumba é energia. Posso estar muito mal, mas quando chego a uma aula ponho uma música e é diferente. E acho que as pessoas sentem essa energia positiva. Todas as más energias vão porta fora”, explica a instrutora. “Liberta o stresse totalmente. Quem vem chateado, no final da aula nem pensa nos problemas. Só apetece ir tomar banho e descansar”, acrescenta Vera, de 28 anos, que pratica a modalidade há três anos.
‘Zumbar’ pela noite fora
Estão enganados aqueles que pensam que o zumba apenas se enquadra nos ginásios. Eventos de zumba em espaços abertos ou fora das horas habituais, onde chegam a juntar-se centenas de pessoas, são comuns nos Estados Unidos e começam a conquistar adeptos em Portugal. Um deles foi a Pink Party, organizada pelos Gémeos Zumba no ginásio 100% FitClub, em Mem Martins. Juntou cerca de 160 pessoas, com idades entre os 17 e os 60 anos, numa festa que começou às 21h e continuou pela noite adentro. “O espírito que se vive é de união e muita alegria, além de combinar isso tudo com o exercício”, conta Guida Jesus, de 25 anos, que participa pela quarta vez num evento deste tipo.
Já passa das 21h e ainda há pessoas à espera de entrar. A música, a cargo de um DJ, abafa os risos e as conversas das várias mulheres (e alguns homens) que entram e saem da sala onde se vai realizar o evento. Mas há quem já vá aquecendo na pista de dança, como Maria do Rosário, de 41 anos. Veio vestida a preceito: uma t-shirt cor-de-rosa, oferecida pela organização aquando do pagamento da entrada, calções brancos e camisa da mesma cor atada pelo peito, meias às riscas até aos joelhos, ténis cor-de-rosa e um chapéu da mesma cor com brilhantes. “Estou à espera de me divertir, de sair com a cabeça limpa e de sentir o calor humano. Nas aulas é só uma hora e sabe a pouco e nós queremos sempre mais”.
Maria do Rosário ocupa o seu lugar numa das primeiras filas, em frente ao palco onde os gémeos e um outro instrutor fazem as coreografias. Apesar de estarem praticamente coladas umas às outras, as fãs não recuam, para não perderem pitada das coreografias, algumas ensaiadas nas aulas. São precisamente essas as que mais animam a plateia: a performance é acompanhada por gritos e cantorias.
Ana Oliveira, que se fez acompanhar pela filha Bruna, de oito anos, é uma estreante neste evento. “Não costumo fazer zumba mas vim porque umas amigas me convidaram e, como não tinha com quem a deixar, ela veio comigo”. Pela desenvoltura que revela, ninguém diria que é a primeira vez que Bruna está em contacto com uma coreografia de zumba.
Neste evento ainda estão algumas caras familiares como a de Aldemi. Apesar de já não ser um novato nestas andanças de eventos zumba, a sua animação e disposição parece que triplicaram desde a última aula. “O evento está óptimo. Junta várias pessoas, dos vários ginásios e conhecemos outras pessoas enquanto nos divertimos”. Em suma, o espírito do zumba.