Meco: Chamada para o 112 posta em causa

As famílias dos jovens que perderam a vida no Meco querem que a Polícia Judiciária (PJ) ouça a gravação da chamada telefónica feita na madrugada da tragédia para o 112. Ontem, anunciaram que vão apresentar queixa-crime contra o sobrevivente, João Gouveia, e “algumas entidades”, nomeadamente a Universidade Lusófona.

“Esta é uma das questões fundamentais que continua por esclarecer: quem fez a chamada, foi o sobrevivente ? Do telefone de quem? A que horas? O que se ouve na gravação?”, questiona o advogado Vítor Parente Ribeiro, que representa os familiares dos seis estudantes que perderam a vida no mar da Praia do Meco, a 15 de Dezembro. Para o advogado, a audição do telefonema poderá permitir, por exemplo, perceber se havia mais gente na praia naquela noite e quanto tempo demorou o sobrevivente João Miguel Gouveia a pedir ajuda. “São os pormenores mais simples” que podem fazer a diferença para apurar a verdade, acredita.

Dois meses depois da tragédia, o advogado está a terminar o conjunto de diligências de investigação que quer pedir ao procurador de Almada, responsável pelo processo de inquérito, que esta semana ouviu algumas testemunhas em Aiana de Cima, a localidade onde os estudantes da Universidade Lusófona alugaram uma casa.

A lista com as diligências exigidas será entregue logo que seja aceite o pedido das famílias para serem assistentes no processo. “Queremos que a PJ faça uma peritagem à localização celular de telemóveis naquela zona”, refere, explicando ser uma forma de apurar se havia outros membros do Conselho de Praxes na praia ou na casa alugada. Parente Ribeiro admite, porém, que poderá ser difícil o juiz autorizar a divulgação da localização dos aparelhos de outras pessoas que não as vítimas: “É mais difícil num processo sem arguidos”.

Andreia tinha telefone só para praxes

A realização de perícias exaustivas aos telemóveis das vítimas, para confirmar as suspeitas de que houve ritual de praxes na noite da tragédia, é outro dos pedidos dos familiares às autoridades. Ao que o SOL apurou, Andreia Revez, de 21 anos, que exercia funções de secretária do dux, tinha, além do seu telemóvel pessoal, um outro usado apenas para assuntos relacionados com as praxes. Nesse aparelho constam inúmeras mensagens com nomes de código que terão agora de ser descodificados pela PJ, à semelhança de grande parte do conteúdo do portátil e do diário, encontrados no apartamento onde Andreia vivia com colegas.

Por outro lado, as famílias querem que o reitor da Lusófona, Mário Moutinho, seja ouvido na investigação para se perceber até que ponto a universidade tinha conhecimento do que se passava. Entretanto, a Lusófona promove hoje uma missa pelos antigos alunos. As famílias convocadas por carta registada com aviso de recepção não deverão estar presentes.

joana.f.costa@sol.pt