Famílias mudam estratégia e prometem silêncio

“A partir de agora e depois de os pais terem feito muitos apelos e alertas, vamos ficar em silêncio” – disse ao SOL o advogado das famílias, Vítor Parente Ribeiro, que espera entregar dentro de dias uma queixa-crime contra o único sobrevivente, João Miguel Gouveia, contra incertos e contra os responsáveis da Universidade Lusófona, onde…

“A partir de agora e depois de os pais terem feito muitos apelos e alertas, vamos ficar em silêncio” – disse ao SOL o advogado das famílias, Vítor Parente Ribeiro, que espera entregar dentro de dias uma queixa-crime contra o único sobrevivente, João Miguel Gouveia, contra incertos e contra os responsáveis da Universidade Lusófona, onde as seis vítimas estudavam.

O objectivo das queixas é acelerar uma investigação que só um mês depois da tragédia ganhou fôlego. Este atraso na recolha de provas leva os pais, aliás, a admitirem recorrer até onde for necessário. “O que queremos é saber a verdade. Se para isso tivermos de processar o Estado pela forma como conduziu a investigação, assim faremos”, avisa António Soares, que falou ao SOL, 24 horas antes de as famílias decidirem remeter-se ao silêncio. O pai de Catarina Soares, uma das seis vítimas do Meco, defende que o Estado pode ser responsabilizado pelo facto de a investigação só ter começado ao fim de 30 dias, o que poderá ter levado à “contaminação dos testemunhos” e à “diluição de provas”.

Neste momento, as famílias continuam sem acesso à investigação, conduzida pelo procurador da República coordenador do círculo de Almada, Moreira da Silva. E aguardam ser aceites como assistentes no processo, requerimento que o juiz de instrução recusou por não terem sido apresentadas as certidões de óbito e os comprovativos do pagamento das custas judiciais, liquidadas na totalidade a 7 de Fevereiro passado pelos familiares.

Jovem reconhecido

Entre os familiares dos seis estudantes da Lusófona, há hoje duas certezas sobre o fim-de-semana de 14 e 15 de Dezembro: os jovens estariam num ritual de praxes violentas e haveria mais pessoas na casa. Uma delas terá mesmo sido reconhecida por várias testemunhas num programa de televisão na RTP, onde estiveram presentes vários membros da Comissão Oficial de Praxes Académica (COPA), apurou o SOL. As testemunhas descrevem ainda outro jovem que dizem nunca ter visto em programas televisivos.

Esta versão continua a ser negada pelo dux do conselho de praxes, João Miguel Gouveia. Quando foi ouvido pelas autoridades, a 5 de Fevereiro, e durante a reconstituição dos factos, feita na madrugada de 13 de Fevereiro, garantiu que apenas lá estavam ele e as seis vítimas.

A TVI revelou que há também documentos, escritos pela mão de Andreia Revez, a secretária do dux, que demonstram que, dois dias antes daquele fim-de-semana, dez dos 12 membros do conselho máximo das praxes tinham confirmado a sua presença na casa alugada.

“Eles eram maiores e estavam ali porque queriam, mas sobre pressão”, garante o pai de Catarina Soares, a estudante de 22 anos que apenas três semanas antes fora eleita para representar o curso de Turismo no conselho da COPA.

António Soares diz que, tendo em conta o feitio da filha, ela dificilmente se sujeitaria a ir para a praia à noite e ficar perto da água, que nesse dia tinha ondas de três metros: “A minha filha era refilona, não era à toa que tinha o nome de código de ‘arruaceira’, e tinha muito medo do mar. Como é que a convenceram a ir para a praia numa noite daquelas?”.

A pressão feita pelo dux João Gouveia para que ninguém faltasse ao encontro seria grande. Catarina chegou a mentir aos colegas para justificar o seu atraso na ida para o Meco, onde só chegou no sábado às 15h30. “Preferiu dizer aos colegas que adormecera, mas na manhã de sábado foi trabalhar no hotel. Fui eu que a levei ao barco”, recorda o pai, para quem a filha “terá tido receio de ficar malvista”.

Já a mãe, Fernanda, recorda que Catarina – cujo namorado pertencia à tuna da Lusófona – só não queria que ela mexesse em duas coisas que tinha no quarto: uma camisa do traje académico, com manchas de lama, usada no primeiro ano da universidade, e um ovo, “que era para partir no final do curso”.

No Meco, vários testemunhas relataram ter visto cascas de ovos no areal.

Só com respostas para estes e outros factos é que António Soares conseguirá seguir em frente: “A minha filha está ‘meio enterrada’. Só quando tudo ficar esclarecido vou começar a fazer o luto”.

joana.f.costa@sol.pt