A entrada na moeda única e as crises financeira (2008) e do euro (desde 2010) acabaram por agravar as dificuldades históricas da economia italiana. Uma economia minada por um crescimento anémico, elevado endividamento, fortes diferenças regionais, economia paralela (máfia incluída), corrupção, burocracia, impostos elevados, más infra-estruturas ou emigração em massa.
Durante anos os mercados financeiros fecharam os olhos a estes factores (Itália entrou no euro com uma dívida pública de 100% do PIB, o dobro da média europeia na altura), mas no pico da crise da dívida soberana os juros dispararam para 7% e colocaram o país à beira de um resgate em 2012 – um evento que teria sido provavelmente o fim do euro. Na prática, Itália tem o poder de uma potência do Norte da Europa e as deficiências de um país da chamada periferia.
Antes de a crise do euro rebentar, a economia italiana já era a pior performer de toda a moeda única. O PIB cresceu apenas 0,3% entre 2002 e 2011 (a média da zona euro foi de 1,4% nesse período) e nos últimos 11 anos de euro, esteve cinco em recessão. A dívida pública é hoje a maior em toda a Europa (cerca de 2 biliões de euros, 12 vezes a economia portuguesa) e só na última década, saíram do país mais de 400 mil italianos. A grande maioria era licenciada, vítima de um desemprego que afecta hoje 12% da população (um máximo desde 1977) e 40% dos jovens, perto de níveis da Grécia.
Duas Itálias
Uma das principais características da economia italiana é a profunda divergência entre o Norte e o Sul. O Norte, rico e industrial, é o ‘motor’ do país onde estão gigantes como a Ferrari, Prada, Gucci, Martini, Vespa, Chicco e outras dezenas de marcas mundialmente famosas. O Sul vive sobretudo da agricultura, do turismo e dos subsídios enviados por Roma. Segundo dados do Eurostat, o nível de vida no Norte é hoje 25% acima da média europeia, enquanto nas regiões a Sul como Sícilia e Calábria, a população vive com metade disso ( 60% da média europeia), equiparando-se a países como a Bulgária ou Roménia.
A crise do euro e as políticas de austeridade dos últimos anos não resolveram os problemas estruturais da economia italiana. Na ocorrência de uma nova crise, o destino de Itália será sempre o destino do euro. Como disse recentemente Joerg Asmunssen, antigo membro da direcção de Mario Draghi no BCE e hoje ministro do Trabalho alemão: “O futuro do euro não será decidido em Paris ou Berlim ou Frankfurt e Bruxelas. Será decidido em Roma”.