Nos meandros da alta-roda da moda mundial diz-se que uma marca sabe que atingiu o sucesso quando é contrafaccionada. Se assim é, Luís Onofre já pode estar descansado. “É um problema, mesmo em Portugal. Tenho actualmente um processo a decorrer contra a Seaside porque aqui há uns tempos entrei numa loja deles e tinham uma série de cópias de sapatos meus. É uma chico-espertice que confunde as pessoas, além de ser uma falta de respeito para com quem fez o trabalho”, desabafa.
Apesar desta perversa confirmação de sucesso, a verdade é que, a Luís Onofre, faltava um outro passo no seu já longo percurso para que, de facto, sentisse o verdadeiro triunfo: abrir uma loja em nome próprio.
Há anos que pensava nisso. Mas este desejo teimava em não passar das fronteiras da sua cabeça, apesar de, na sua cabeça, este desejo já ter todos os contornos definidos. A loja teria de ser em Lisboa e na capital só havia uma rua em que faria sentido: a Avenida da Liberdade, a artéria mais luxuosa da cidade, com lojas como a Prada, a Louis Vuitton e a Cartier. “Já tinha decidido que era obrigatório que a minha loja fosse na Avenida da Liberdade porque tem a ver com o posicionamento da minha marca. A Avenida tornou-se um ícone de moda, para portugueses e estrangeiros”.
Mas o tempo passava e cada vez parecia mais difícil que este desejo se concretizasse. Até que, quando menos esperava, recebeu um telefonema que mudou tudo. “Quando comecei a pensar mais em abrir a loja, há cerca de três anos, conversei com amigos, um deles do BES, e disse que estava interessado numa loja na Avenida. Fartei-me de procurar, esse amigo também, mas nada. Até que, no princípio de Dezembro, liga-me a dizer que tinha encontrado um espaço e a perguntar-me em quanto tempo conseguia pôr-me em Lisboa. Ainda ele estava a dizer isto já eu estava a meter a chave no carro e a sair de São João da Madeira. Foi o negócio mais rápido da minha vida”. O mais rápido e seguramente o mais desejado. O que, no entanto, não retira ansiedade a Luís Onofre. “Claro que tenho medo, ter uma loja é algo novo para mim. A minha zona de conforto continua a ser a criativa e produtiva”. Justamente por isto, Luís sabe que terá de fazer ainda mais vezes a viagem entre São João da Madeira, onde tem ateliê e fábrica, e Lisboa, onde fica esta nova loja.
A fachada em vidro, com o nome Luís Onofre em destaque, não passa despercebida. Aquele número 247 da Avenida da Liberdade, divide-se em dois pisos, num total de 70 m2, pensados pelo arquitecto Mário Sequeira, com quem Luís há muito trabalha. O espaço é simples e moderno, uma espécie de tela em branco para as criações do designer. Espalhados pelas prateleiras estão já os modelos para o Verão 2014. Há peles coloridas e muitos cristais. E saltos altos. Muito altos, ou não fosse esta uma das grandes assinaturas de Onofre. Logo no primeiro dia de funcionamento, a loja esgotou um dos modelos, umas sandálias decoradas com cristais.
Parece que Luís Onofre, afinal, não tem razões para medos. Os números de 2013, aliás, já o indicavam: “Só no ano passado, tivemos um aumento de 15 a 20 por cento nas vendas a nível nacional. As portuguesas gostam de produtos de excepção e sentem um carinho muito grande por aquilo que é português. Tenho sentido muito isso, que é algo que não acontecia há uns anos”.
À conquista do mundo
Para Luís, a loja que agora inaugurou é um “projecto piloto”. O objectivo é, não apenas abrir novos espaços em Portugal, mas sobretudo no resto do mundo – isto depois de uma primeira experiência em Veneza, Itália, que terminou abruptamente, quando o casal detentor do franchising se divorciou. “Temos interessados e alguns negócios em vista para replicar a loja Luís Onofre noutros países, mas precisava de ter algo físico para demonstrar o que poderia ser este espaço com a minha assinatura”.
Os primeiros países que receberão lojas Luís Onofre serão Angola e Dubai. Em stand by, porém, continuará um destino muito desejado: a Colômbia. “Estávamos em negociações, mas foi difícil, apesar de acreditar que as coisas iam avançar. É um mercado pouco explorado, com um poder económico incrível e onde as mulheres se produzem muito bem. Aliás, a América do Sul em geral, tirando apenas o Brasil, não tem a forma de pensar dos americanos e dos europeus que ainda acham que o made in Italy é que é o número um”.
Ainda assim, a verdade é que o made in Portugal ganhou outro peso, sobretudo nos últimos três anos. Luís sabe-o bem. Até porque foi um dos embaixadores desta mudança de imagem. É um caminho, por vezes sinuoso, mas que a marca Portugal tem trilhado com passos seguros, baseados na qualidade, inovação e design, como características diferenciadoras.
No caso de Luís Onofre, a palavra-chave é luxo. Por isso sorri quando o chamam de Christian Louboutin português. Mas fá-lo com a consciência de que não é um título assim tão distante da verdade. Afinal, é neste segmento que concorrem os cerca de 40 mil pares de sapatos que produz por ano, dos quais cerca de 90 por cento continua a destinar-se ao mercado estrangeiro – muitas vezes a clientes bem conhecidas no mundo inteiro como a actriz Naomi Watts.
Com showroom permanente em Portugal, Luxemburgo, Rimini e Dubai, e presença usual nas maiores feiras de calçado do mundo – em Milão, Moscovo e Las Vegas -, as notas de encomenda de sapatos Luís Onofre trazem o carimbo de países tão distintos como a Rússia, China, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Suíça, Angola, Gana, Nigéria, Moçambique, Mongólia, Azerbaijão, Cazaquistão e Martinica. Uma volta ao mundo com assinatura Luís Onofre. O mesmo homem que, no pico da adolescência, quis convencer o pai que a última coisa que queria para a sua vida era trabalhar no negócio de família: o calçado.