O Gaspar burocrata

Vítor Gaspar desmultiplicou-se por aí em entrevistas, aparentemente a tentar limpar o seu nome, e a reivindicar o que houver de resultados positivos (para quem considera positivos resultados baseados num peso social insuportável). Mas se até há gente que sabe ler e escrever e acha que, mal haja uma recuperação económica, significa nunca ter havido…

Mas enfim, gostava de roubar a comentador alheio (Miguel Gaspar, do Público) o que me parece ser a melhor definição de Vítor Gaspar: «Como se fosse um ser desprovido de ideias próprias que no Terreiro do Paço prolongaria a postura do funcionário zeloso que fora em Frankfurt e em Bruxelas». Haverá pior definição para um economista? E, no entanto, a ele, assenta-lhe como uma luva. Só que os burocratas costumam ser mais desenvoltos a falarem e a pensarem – porque já se viu que ele soletra a falar e a pensar.

Contudo, o comentário mais destrutivo que sobre ele se fez pertence ao também social-democrata Eduardo Catroga. Gaspar, que avisou logo não sofrer de ‘falsas’ humildades, resolveu destacar contributos dados por si para as primeiras negociações com a troika, ainda sob coordenação de Catroga. Pois este decidiu fulminá-lo, dizendo apenas que tais contribuições, que recebeu de muitos economistas, no caso concreto de Gaspar «foram irrelevantes».

Resta-me só esta minha opiniãozita de um humanista cristão: não consigo ver qualquer sucesso numa politica que assenta sobre o empobrecimento e o atirar para fora da Sociedade a maioria dos mais frágeis do Pais. A Economia, há muito que está comprovado, até por vários Nobel do sector, não são números, como pensam alguns economistas: é o resultado de reacções subjectivas, que visam a vida de pessoas, com nome e apelido – para o que os números são indispensáveis mas instrumentais.