Durante as caminhadas, por entre paisagens verdejantes e com o mar como pano de fundo, os pescadores partilham com os caminhantes os seus conhecimentos sobre a geografia e a história dos locais por onde passam.
A agência Lusa juntou-se a uma destas iniciativas, organizada para profissionais da área do turismo, cujo tema foi a antiga actividade de apanha de algas, que ainda antes da formação da povoação, no final dos anos 60 do século passado, já era o sustento de centenas de pessoas nos meses de verão.
Entre a Azenha do Mar, praticamente no limite do Alentejo, e um arrebatador miradouro natural sobre a algarvia praia de Odeceixe, Ivânia Guerreiro, técnica da Taipa, uma cooperativa na área da solidariedade e do desenvolvimento do concelho de Odemira, explica que o projecto pretende “valorizar o pescador” e o sector da pesca.
A Taipa é a entidade que está a promover o projecto, co-financiado pela União Europeia, com o objectivo de dar à pesca a importância que merece, uma vez que “acaba por ser desvalorizada pelos próprios pescadores”.
“Não queremos de forma alguma que eles deixem de ser pescadores. Aquilo que nós queremos é que eles consigam criar actividades de onde possam obter algum rendimento e ao mesmo tempo potenciar e divulgar a sua comunidade, o seu trabalho”, explicou Ivânia Guerreiro.
É neste contexto que surgem as caminhadas guiadas, que tiveram início de forma mais “séria” no final do ano passado, mas deixaram para trás um longo período de preparação, de organização dos percursos e até de formação dos pescadores.
José Manuel Silva, de 61 anos, um dos cinco guias ligados ao projecto, tinha a lição estudada.
“Para ser um bom guia é termos bons caminhantes, isso é importantíssimo. E conhecer um pouco da zona em que estamos e ser um bocadinho engraxador, isso também faz parte. [risos] E termos tempo para falar com as pessoas”, descreveu à Lusa.
O pescador, natural de Odeceixe mas a viver na Azenha do Mar desde tenra idade, considera também essencial saber falar inglês, dificuldade que já começou a ser resolvida com algumas horas de formação providenciadas pela Taipa.
Para José Manuel Silva, tem sido “difícil” viver “só do mar”, chegando a não trabalhar mais de 80 dias num ano inteiro.
Com o mau tempo que se tem feito sentir no litoral do país, “há dois meses” que os lobos do mar não vão à faina e, quando podem sair, já não apanham peixe “como antigamente”.
A comunidade piscatória da Azenha do Mar, com perto de 150 pessoas, teve mais de 40 barcos de pesca e hoje tem apenas “12 ou 13”, recordou o pescador.
No entanto, não encara ainda as caminhadas, que têm um custo de seis euros por pessoa (ou 12 euros, se incluir o almoço), como uma forma de sustento, mas “mais como um convívio”.
“Contamos as nossas histórias do mar e aí vamo-nos entretendo e vamos aliviando também a nossa alma, o nosso coração com essas coisas, que é uma alegria a gente falar com as pessoas”, disse, embora admitindo que, “no futuro”, a actividade pode “dar uma ajuda”.
Luís Freitas, proprietário da Quinta do Chocalhinho, uma herdade de agro-turismo próximo de Odemira, não hesitou em dizer à Lusa que iria aconselhar as caminhadas dos pescadores da Azenha do Mar aos seus hóspedes.
“Quanto mais diversificação de entretenimentos e de aprendizagens houver para os hóspedes, claro que maior é a procura e mais contentes e satisfeitos eles ficam”, afirmou o empresário.