Ser jornalista do mundo, de Pequim até ao México

Ao fim de seis anos em Pequim, uma das raras jornalistas portuguesas que trabalhou em grandes órgãos de informação chineses está de novo de partida e, desta vez, rumo à Cidade do México.

“Eu gosto de ser estrangeira. Desde que vivi um ano em Barcelona a minha vida nunca mais foi a mesma”, diz Vera Peneda, ex-jornalista da Televisão Central da China (CCTV) e do Global Times, jornal do grupo Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista Chinês.

Vera Peneda, 34 anos, nascida e criada em Cascais, é formada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa.

Em 2007, candidatou-se ao programa Inove/Contacto da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e no final daquele ano foi enviada para Pequim, para estagiar nove meses na delegação local da agência Lusa: “Nunca pensei vir para a China e tive apenas quinze dias para fazer a mudança”.

O estágio coincidiu com as primeiras olimpíadas organizadas pela capital chinesa, no verão de 2008: “Foi fantástico acompanhar todo o esforço da cidade para receber os Jogos”, recorda.

Depois do estágio, Vera optou por ficar: “Senti que o meu tempo na China ainda não tinha acabado”.

Começou por trabalhar numa revista mensal dirigida à comunidade expatriada e em 2009 entrou para o Global Times, que estava a lançar uma edição em inglês: “Passei a escrever em inglês, o que antes nunca tinha considerado”.

Vera não costumava escrever sobre temas políticos: “A minha área era a Sociedade e a Cultura”.

Mesmo assim, os seus artigos não escapavam ao “controlo” da direcção: “Uma vez (num artigo sobre um escritor de Taiwan) tive de reescrever várias frases e o texto esteve um mês à espera para sair”.

“Mas nunca menti, nem fui forçada a mentir. Sempre foi possível negociar e havia sempre espaço para um compromisso”, salientou.

Em 2013, foi contratada pela CCTV, para uma equipa que produzia conteúdos para plataformas digitais e as redes sociais, e fez um mestrado sobre “multimédia e jornalismo internacional”.

Após a crise global de 2008, enquanto muitos países ocidentais estagnaram ou entraram em recessão, a China tornou-se a segunda maior economia mundial e adquiriu o estatuto de nova potência emergente.

Vera não pensa, contudo, que a China vá dominar o mundo, como sustentam alguns analistas: “O mundo é muito maior do que a China e não acho que seja essa a sua intenção. Talvez sonhe com o domínio económico, mas duvido que queira dominar o mundo em toda a acepção da palavra”.

Vera e o namorado, o jornalista britânico Chris Dalby, que trabalhou também no Global Times, já tinham pensado sair da China quando ela acabasse o mestrado. Chris, entretanto, arranjou emprego na Cidade do Mexico e é lá que vão viver nos próximos tempos.

“Os anos dourados em que os estrangeiros vinham à aventura para a China procurar emprego acabaram”, diz Vera. “Há cada vez mais chineses a falar inglês, a obtenção de vistos está muito mais difícil e a vida mais cara”.

Vera regressa já esta semana a Portugal, depois irá a Londres visitar a irmã, uma designer de 27 anos, e a seguir voará para a Cidade do México, via Madrid.

Ainda não tem emprego no México, mas não parece preocupada: “Depois da China, acho que estou preparada para trabalhar em qualquer lado”.