O referendo suíço e a esperada subida, nas próximas eleições europeias, dos partidos identitários são outros indícios técnicos desta tendência. Não surpreende. A Guerra Fria foi o último grande conflito ideológico e geopolítico internacionalista. Hoje o único lugar onde persiste um empenhamento transnacional é a União Europeia. Outras organizações como a União Africana ou a Liga Árabe, renunciaram há muito ao pan-africanismo e ao pan-arabismo e os Estados-membros comportam-se como Estados independentes uns dos outros, com interesses próprios e diversificados.
Apesar da persistência de uma linguagem internacionalista no discursos das organizações multilaterais – herança da retórica fundacional das Nações Unidas e ganha-pão das suas agências especializadas – e da globalização económica promovida pela OMC, a verdade é que a articulação e direcção da política mundial voltou a obedecer a critérios valorativos westfalianos, outra vez centrais na estratégia dos Estados. Nunca deixou de ser assim, mas agora isso é reconhecido publicamente.
O referendo suíço sobre restrições à imigração surge neste contexto e nesta linha. Embora por uma pequena margem de pouco mais de 20.000 votos (o ‘sim’ ganhou com 50,3%), é importante sublinhar que foi uma vitória contra os vários níveis do poder – do Governo, dos principais partidos políticos, dos media, do patronato e dos sindicatos.
O resultado, que lançou consternação em Bruxelas e nas forças do mainstream político-partidário europeu, foi saudado pelos partidos nacionais identitários como o Front National francês e o UKIP britânico, que nele viram um bom augúrio na sua guerra pelos direitos das nações contra o unionismo europeu.
Isto por que a Suíça, com o seu sistema de recursos a voto popular directo, dá lições de transparência e fiabilidade democrática inquestionáveis. É também o país com mais alto grau de militarização da população e que, ao contrário da maioria dos Estados europeus, tem mostrado determinação, mesmo depois do fim da Guerra Fria, em manter um nível significativo de despesas militares e um serviço militar obrigatório e universal. Este foi o segredo da sua independência e da sua neutralidade, uma neutralidade bem protegida pela força dissuasora de um Exército bem treinado e equipado. O próprio Hitler respeitou e passou perante a fronteira suíça.