Receitas da Banca afundam 25% em 2013

O ano horribilis da banca portuguesa em 2013 não se deveu só à desvalorização de activos, às provisões para crédito em incumprimento ou aos elevados custos de financiamento. A queda abrupta de receitas e a incapacidade de cortar os custos de funcionamento foram dois factores determinantes para o aumento de 63% dos prejuízos globais dos…

No conjunto, CGD, BES, BCP, BPI e Santander Totta, que representam mais de 80% do mercado nacional, perderam 1,6 mil milhões de euros no ano passado – um aumento de 600 milhões face a 2012. Os que conseguiram ter lucros (BPI e Santander) sofreram quebras superiores a 50%. Nos restantes, o cenário é para esquecer. O BES teve o pior ano da sua história e o BCP, apesar de ter desacelerado a queda, ainda registou o maior prejuízo do sector.

A queda das receitas foi chave nesta evolução. Segundo dados compilados pelo SOL a partir dos relatórios anuais, o produto bancário destas cinco instituições registou uma descida de 25% face a 2012, o equivalente a menos 2,3 mil milhões de euros, no total. O produto bancário agrega o que um banco recebe de juros, comissões ou operações interbancárias. No fundo, são as receitas da actividade.

Taxas de juro baixas

A restrição na concessão de crédito devido a uma maior exigência dos bancos, menor procura dos clientes e preocupação em reduzir rácio dos empréstimos sobre os depósitos foram factores cruciais nesta descida de receitas, segundo os analistas contactados pelo SOL. E os problemas aprofundaram-se com as taxas de juro de referência no mercado em valores quase nulos – actualmente estão em 0,25%- que impediram a banca de ter maiores margens de negócio.

Com a perda de um quarto das receitas num ano, a manutenção dos custos operacionais em 2013 acabou por provocar um rombo nas contas dos cinco maiores bancos. A redução marginal dos custos em 2013 – apenas 0,16% – sinaliza uma tendência preocupante. «A queda ligeira dos custos revela que os bancos já estão a esgotar o potencial de corte de custos, depois de anos a reduzir estrutura com fecho de balcões, despedimentos e reformas antecipadas», salienta Steven Santos, gestor da corretora XTB Portugal.

Além do desequilíbrio entre receitas e custos, o crédito em incumprimento é outra dor de cabeça. Em 2013, o crédito em risco – um indicador imposto pela troika que contabiliza não só os empréstimos vencidos a mais de 90 dias, mas também o crédito reestruturado e outros empréstimos em que há o perigo de falência ou liquidação do devedor – totalizou 24 mil milhões de euros nos cinco maiores bancos, quase 50% mais do que em 2012.

Só as três maiores instituições, CGD, BES e BCP, têm mais de 20 mil milhões de euros de crédito em risco de não ser pago – cerca de 11% do total dos empréstimos concedidos. Os analistas acreditam que o malparado poderá continuar a subir nos próximos meses, mas a um ritmo menor.

PME endividadas

Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que as empresas portuguesas estão a adiar a reestruturação das suas dívidas até um ponto demasiado tardio para serem salvas. Até agora, apenas 1.800 companhias, sobretudo PME, avançaram para a renegociação dos empréstimos, diz o FMI. Isto num universo de mais de 800 mil empresas, segundo dados do Eurostat.

Os técnicos do Fundo salientam que as companhias portuguesas são das mais alavancadas da Europa, com uma dívida total de 150% do PIB. A grande maioria está exposta a vários bancos, o que torna mais difícil a renegociação com os credores, e a sua falência tem um efeito de contágio sobre todo o sector. As PME continuam a ser um risco para a banca, alerta o FMI, na 10.ª avaliação.

Albino Oliveira, da corretora Fincor, está optimista quanto à melhoria dos resultados da banca em 2014. As receitas poderão ter um comportamento mais positivo, a atenção ao controlo de custos deverá manter-se, a área internacional deverá gerar resultados animadores e as instituições poderão fazer menores provisões para o malparado. A XTB acredita que BES, BCP e BPI poderão apresentar lucros ao longo deste ano.

luis.goncalves@sol.pt