A utilização das Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) na transferência de doentes críticos entre hospitais está a deixar as populações, sobretudo no interior do país, sem assistência médica.
O Instituto Nacional de Emergência Médica garante que o transporte secundário está previsto nas operações e o próprio ministro da Saúde, que reconhece o aumento da eficácia das VMER, assume que as “redundâncias do sistema não deixam ninguém de fora”. Mas só este ano foram já três as situações em que a VMER foi necessária e estava ocupada com o transporte de doentes, descurando o socorro primário.
O primeiro sobressalto ocorreu a 22 de Janeiro quando a VMER de Santa Maria da Feira foi chamada a acompanhar um transporte secundário entre o Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga e o Hospital de Vila Nova de Gaia. A VMER esteve ocupada entre as 23h15 e as 01h15, à mesma hora que um sinistrado estava em perigo de vida. Foi o episódio de urgência com o número 14010763 e o sinistrado foi levado pelos bombeiros, segundo o relatório, “em periparagem ventilatória, com necessidade de entubação orotraqueal e ventilação mecânica imediata”.
Uma semana depois a VMER foi necessária, e activada pelo INEM, para intervir numa emergência médica em Penalva do Castelo. Mas a VMER estava em Coimbra a acompanhar um sinistrado, vítima de trauma, que havia sido transferido do Hospital de Viseu. Sem centro de saúde ou serviço de atendimento permanente (SAP), o doente acabou por fazer 30 km acompanhado pelos técnicos de emergência médica dos Bombeiros Voluntários de Penalva do Castelo.
O ministro da Saúde ouvido durante uma visita em Viseu, desvalorizou as queixas e adiantou que “a taxa de utilização das VMER tem vindo a aumentar”.
Paulo Macedo garantiu que “o sistema nunca entrará em colapso porque é redundante com VMER, helicópteros e ambulâncias de suporte de vida”.
Mas não foi o que aconteceu em Chaves com o transporte de mais de 400 quilómetros de um doente, que não encontrou vaga nos hospitais do Norte para a especialidade de neurocirurgia e foi encaminhado para Lisboa. VMER e ambulância estiveram ocupadas durante mais de dez horas, deixando 75 mil pessoas sem emergência médica.
Também em Viseu o mau tempo tem impedido a evacuação de helicóptero e de cada vez que um sinistrado é evacuado para Coimbra, devido à falta de neurocirurgiões, todo o distrito fica sem VMER.
Ao que apurou o SOL junto de várias fontes são os hospitais, que disponibilizam médicos e enfermeiros, que exigem o acompanhamento das transferências pelas VMER. Mas durante estes transportes é o INEM quem “questiona a VMER se vai ficar disponível porque tem ocorrências graves no pré-hospitalar e não tem meios diferenciados para enviar”
O INEM, que em Penalva do Castelo confirmou a activação e o não envio, assume, através de fonte oficial, que com “a integração das VMER nos serviços de urgência dos hospitais estas viaturas são frequentemente utilizadas no transporte de doentes entre hospitais menos diferenciados e hospitais com capacidade para o tratamento definitivo dos doentes”.
Segundo o INEM, as viaturas serão utilizadas “sempre que tal se justifique do ponto de vista médico, com doentes críticos, que são transportados para os hospitais com capacidade para o seu tratamento com acompanhamento”.
E no interior do país, onde as urgências fecharam com a promessa de melhoria no socorro pré-hospitalar, os doentes acabam por ficar sem socorro primário e com o hospital a dezenas de quilómetros de distância.