O tema prosperou para outros géneros, como a ficção científica – foi o caso de Avatar, de James Cameron, que, além de condenar o anti-imperialismo ocidental, (outro tema comum da autocrítica de Hollywood), denuncia também a exploração capitalista e anti-ecológica. Do mesmo modo, na série dos Alien (1979-1997) com Sigourney Weaver, a origem dos monstros tinha a ver com as experiências de uma corporação capitalista para criar em laboratório novas espécies, pela sede do lucro, a partir da inovação (bio)tecnológica. É, a seu modo, uma actualização do mito e maldição de Frankenstein.
Todo este intróito para falar do discutido e longuíssimo Lobo de Wall Street de Martin Scorsese, um realizador a quem sou grato por revisitar filmes da minha adolescência, em A Minha Viagem a Itália. Scorsese é bom, Di Caprio, depois de fazer de Gatsby e de supremacista sulista em Django Libertado, está outra vez aqui magnífico e em força a reconstruir o corretor trapaceiro Jordan Belfort, autor de vários crimes de especulação e fraude.
O filme não perdia em ter levado um corte de uns trinta a quarenta minutos e em moderar algum excesso, mesmo no relato dos excessos – de drogas, de sexo e até de ganância – que é o seu tema central.
Mas é pró-capitalista ou anticapitalista? J. M. Keynes, que entendia de Finanças mas também de Humanidades, percebeu que na civilização capitalista as más e egoístas intenções levavam a bons resultados. E que, no socialismo, as boas intenções levavam a maus ou péssimos resultados. Se tal resultava da ‘mão invisível’ de Adam Smith, se da regulação moral da sociedade que o autor da The Theory of Moral Sentiments bem conhecia, fica na dúvida. Mas os economistas clássicos, ao contrário dos políticos neoliberais, preocupavam-se com a religião e a moral que para eles eram condição das sociedades livres.
Talvez O Lobo não seja assim tão anticapitalista. Ao fim e ao cabo, o sistema funciona: o ganancioso e bem sucedido predador é detectado e perseguido pelo discreto agente do FBI, Patrick Denham (Kyle Chandler); aceita colaborar e trair os sócios, amigos e cúmplices; a mulher deixa-o; acaba com uma pena de três anos, mas a pregar técnicas de vendas.
Denham, regressando de Metro do emprego, pode concluir que os ‘maus’, mesmo ricos, acabam mal. Na América.