@NeinQuarterly
Eric Jarosinski era até há pouco tempo assistente de Literatura Alemã na Universidade da Pensilvânia. Em Janeiro de 2012, cansado de escrever a sua tese de doutoramento, afastou-se do computador e começar a twittar no smartphone em inglês e em alemão. É um dos autores mais estimulantes de seguir no Twitter, com mais de sessenta mil seguidores. Como avatar usa um cartoon do filósofo alemão Theodor W. Adorno com a palavra alemã ‘Nein’ em baixo. ‘O Nein’, como é carinhosamente conhecido num grupo de fãs em Portugal, não twitta sobre nada. Inventa estruturas que desenvolve com diferentes conteúdos. Tudo ali é forma. Num perfil publicado na revista The New Yorker, Eric Jarosinski disse que um bom dia no Twitter é aquele em que consegue inventar uma nova estrutura. Ultimamente, Veneza tem sido uma constante, por causa da Morte em Veneza, de Thomas Mann. Gostei muito do tweet: «O que acontece em Veneza, morre em Veneza». É um aforista de profissão.
A trança de Timochenko
A libertação de Iulia Timochenko, antiga primeira-ministra da Ucrânia, presa e acusada de corrupção em 2001, foi um momento importante na quase guerra civil a que assistimos pela televisão. A situação é tão confusa que me vou concentrar no mais importante: naquela trança. A Forbes conta que a ideia de transformar Timochenko numa loura de trança campestre foi de assessores de imagem apostados em fazer uma mudança radical numa morena associada a negócios de energia. A trança era popular nas camadas mais baixas e dava a ideia de uma coroa. Ou de uma aura. Timochenko passou a vestir cores alegres e o cabelo assim penteado ficou até à data da sua libertação. Espero que se mantenha porque é uma ruína de feminilidade que importa conservar. A simples bandolete, substituição proletária da tiara, ou o próprio diadema, objecto de luxo incompreendido, não são soluções tão eficazes para mostrar o poder de uma mulher quanto um penteado que dá trabalho.
Dia de descanso
Há dias acordei (assim) com um tédio parecido ao dos perus depois do Dia de Acção de Graças. Digo ‘depois’ porque antes ainda há um frisson entre os perus, a dúvida excitante do serei eu ou serás tu depois de termos engordado juntos. Depois é o vazio que também chega com o perdão presidencial. Durante cerca de 24 horas da minha vida senti-me, portanto, como um peru sobrevivente e perdoado, depois do Dia de Acção de Graças. É a melhor descrição que posso fazer de um sentimento novo que me acompanhou ao longo do dia. Um tédio absoluto e invasor, contrário aos princípios caninos fundadores daquilo a que pomposamente chamo ‘a minha personalidade’, a saber: amor, disciplina, exercício. A base foi contaminada por esta emoção nova, que fez com que olhasse para tudo naquele dia e repetisse: ‘Não me apetece’. Não exagero quando digo que nunca me aconteceu. Teria certamente guardado a memória desse sentimento que não é assim tão mau como pintam.
Vinte
Na inauguração da vigésima loja de A Padaria Portuguesa, no Campo Pequeno, Nuno Carvalho, fundador da empresa, explicou o processo pelo qual o negócio se desenvolveu, com as suas exigências de qualidade de produto e serviço e rigor financeiro. Falou de números com modéstia. Falou de pessoas com orgulho. Falou do futuro com ambição. Estávamos em Portugal, mas não parecia. O país, como sabemos, tem um problema grave no que respeita às empresas. Após anos de desprezo pela iniciativa privada, o país acordou para o ‘empreendedorismo’, convencido de que é a palavra mágica para o crescimento. Não é, nem se aplica com justiça ao caso de A Padaria Portuguesa. Nuno Carvalho fez a sua apresentação sem explicar o que não pode ser explicado pelo próprio. O sucesso da empresa está em qualidades específicas de quem a criou e de quem nela trabalha, na sua preocupação local e na proximidade com as pessoas. São vinte lojas em quatro anos. Mas é mil vezes bravo.