Porque a Rússia tem uma enorme população na Ucrânica, que vai para além da Crimeia, em cujo porto, o único a com acesso ao Mar Negro e águas não congeladas durante todo o ano, estaciona a sua mais importante frota de navios de guerra. Estava cantado que Moscovo não ia deixar tudo aquilo sem reagir. E os tártaros da Crimeia, compreensivelmente anti-russos desde as deportações forçadas nos tempos de Estaline, talvez acabem por ficar mais seguros na presença de soldados russos, do que às mãos de uma maioria pró-russa e radical local, deixada à solta.
Claro que o confronto é também económico: Rússia e União Europeia disputam um mercado de 45 milhões de consumidores e o acesso a importantes recursos. Mas o que põem em causa, em caso de guerra fria prolongada (e já nem falo em guerra mesmo, porque os Europeus se encolhem sempre na hora da verdade), pode ser bastante mais: a perda de mercados muito mais vastos para ambos os lados.
EUA e Canadá assumem a sua posição mais clara e dura, como é costume, e vão enfrentar iguais prejuízos. Mas nunca se comportaram como os meninos europeus, que se entretêm com troikas absurdas e estímulos ao longe disparatados. Talvez não esteja a ser original. E, apesar de ter recordações antigas de Rui Machete (desde os tempos da Faculdade de Direito, antes do 25 de Abril) muito positivas, não posso deixar de considerar que, desde o envolvimento no BPN à sua actual postura, esqueceu o velho PSD para entrar no populismo trágico e menos ético da equipa de Passos. E sorrio com um comentário que li por aí algures, e que cito de cabeça: “Machete está à espera de que as coisas se clarifiquem na Ucrânia, para saber a quem há de pedir desculpas”.