Parti para a apresentação das novas colheitas da Ervideira com dois objectivos distintos. Antes de mais, tinha grande expectativa por ver se o lugar escolhido para a prova – o restaurante Faz Figura, em Lisboa – continuava a exibir os níveis de qualidade a que me habituei em tempos idos. Depois, estava expectante quanto à realidade da Ervideira propriamente dita.
A primeira dúvida depressa foi satisfeita ao ritmo de cada prato que ia sendo servido. O profissionalismo no atendimento e a qualidade dos pratos que vinham da cozinha satisfizeram-me plenamente numa mostra de que a casa aberta há 40 anos continua no caminho certo.
Quanto à realidade da Ervideira, outro sucesso. Das herdades do Monte da Ribeira (Vidigueira) e da Herdadinha (Reguengos de Monsaraz) saem vinhos de grande qualidade e com fácil escoamento no mercado. Tão fácil que um dos vinhos que provámos, o Invisível Branco Aragonez 2012, não se vê mesmo à venda em parte nenhuma. Esgotou logo, privando o público de beber um vinho branco feito com uvas tintas, cheio de aromas (por obra e graça da casta Aragonez) onde se destacam a fruta fresca e a hortelã, evidenciando mineralidade e acidez equilibrada. Um vinho único que recebe carinhos também únicos, como o facto de a vindima das suas uvas ser feita de noite.
Antes, tínhamos já provado o Espumante Ervideira Bruto 2012 (A Ervideira foi a primeira a avançar com o projecto espumante no Alentejo), que apresentou notas de fruta tropical e se revelou macio. Seguiu-se o Conde de Ervideira Private Selection Branco 2012, que esteve à altura para acompanhar um pargo no forno com estragão. Este vinho é o prolongar do estágio do lote de Antão Vaz a que se junta no final algum Arinto para lhe dar frescura e mineralidade. Estagia em barricas de carvalho húngaro, o que lhe dá menos tostado.
A bochecha de vitela mirandesa estufada foi acompanhada pelo Conde de Ervideira Private Selection Tinto de 2011. Tem corpo, tem estrutura e o perfil aromático encaminha-nos para os frutos vermelhos. Apresenta elevada persistência e pode ser guardado entre seis e oito anos. Terminámos com um Ervideira Vindima Tardia Antão Vaz 2012 e concluímos muito bem, tudo com a ajuda do enólogo Nelson Rolo.
A família Leal da Costa, proprietária da Ervideira, descendente directa do conde d’Ervideira, faz assim honra às raízes do seu antepassado, que começou a produzir vinhos em 1888 e que, como se vê, deixou escola.