Cláudia Vieira: ‘Nunca me senti refém da imagem’

Na novela da SIC, Sol de Inverno, interpreta Andreia, a sua primeira vilã. Ela não é totalmente uma vilã. Levou esse rótulo porque não é uma personagem com princípios. É uma mulher que tem as prioridades trocadas e que luta para agarrar uma carreira prestes a terminar. Até porque tem consciência de que o marido…

Como é preparar uma personagem que não se entende bem?

Foi um processo complicado. Comecei por retirar a minha expressão. Tenho uma expressão jovem e ela não poderia ter, queria que ela tivesse um ar mais velho. Depois tive de retirar o meu lado doce e sorridente, arranjar um andar diferente e aprender a estar sempre em pose como se tivesse um holofote apontado. Até o tom de voz tive de mudar. Tive de me contrariar profundamente.

Isso nunca tinha acontecido?

Nunca. O que me pediam sempre era muito próximo daquilo que sou.

Receou que as pessoas mudassem de opinião em relação a si?

O meu objectivo era que não me reconhecessem. Mas não receei que pudessem deixar de me achar simpática. A verdade é que nunca me abordaram de forma agressiva, mas comentam que não gostam nada de me ver neste papel. E percebo o que querem dizer. Ela é desagradável e incomoda. Até a mim.

É a personagem que mais lhe dá mais trabalho a despir ao final do dia?

Não sou de levar as personagens para casa. O que ela provoca em mim é que, quando estamos a gravar e dizem ‘corta’, não desmancho logo. Fico ali uns minutos. Mas não me custa não a levar para casa. Nunca vivo a dor das personagens.

Já sabe qual será o próximo projecto?

Sei que não vou participar na próxima novela, o que é normal e tem a ver com gestão de imagem. Depois há possíveis projectos, mas não estão fechados e portanto não posso falar neles. Mas, nesta área, a incerteza é comum. Enquanto Cláudia, estou a viver uma fase de mudanças e sinto vontade de fazer outras coisas. Sinto vontade de fazer formação. E de fazer férias sem estar a pensar no projecto seguinte. Quero viajar mais, algo que, até aqui, se tornava complicado por ter projectos uns em cima dos outros, mas também porque tinha de encontrar um consenso. Agora estou um bocadinho mais liberta.

É a primeira novela em que não é a protagonista. No início disse que foi um alívio. Ainda tem a mesma opinião?

A questão tem dois lados. Respirei de alívio porque tenho poucas horas de gravação e posso ter outros projectos. Mas depois pego nos episódios e… queria mais, e é angustiante perceber isso. Quase tenho vontade de reunir com o autor e pedir-lhe que escreva mais para a minha personagem. Mas, pelo outro lado, sinto-me realizada por poder ter outros projectos.

Como a peça de teatro Zorro, com que esteve recentemente em cena no Teatro da Trindade?

Sem dúvida. E mesmo com este ritmo ainda faltei a muitos ensaios.

Como foi a experiência?

Foi a minha segunda peça, a primeira foi com o Luís Gaspar e foi muito intensa. Esta é diferente. Não foi um espectáculo que me deixasse sempre nervosa. É um espectáculo com uma mensagem positiva e que mesmo as crianças pequenas adoraram. A minha filha Maria, por exemplo, se tinha um dia sem escola dizia logo que queria ir para o Zorro. Viu umas sete vezes! Estava fascinada, cantarolava as músicas e decorou o meu texto.

Ela é assim em relação a outros trabalhos?

Não, foi mesmo o teatro. Se apareço na televisão, ela identifica-me, mas não liga. No Zorro ficou fascinada. Até pedia para ir para cima do palco.

Já se está a imaginar a ser mãe de uma actriz?

Não sei. Queremos é que ela tenha o melhor ensino possível. Não vou lutar para que ela seja isto ou aquilo. Tanto que nem faço produções fotográficas com ela. Se calhar, mais tarde, vai-me criticar por isso. Mas se ela quiser ser actriz vai ter de trabalhar por isso.

Por que acha que tem feito tão pouco teatro? Continua a haver preconceito em relação aos actores ditos mais comerciais?

Sim, mas muito menos. Tenho tido vários convites e para coisas bastante interessantes, mas que não pude fazer, pelo trabalho que tive sempre em televisão. Em quase dez anos nunca parei de fazer televisão. Nem quero parar. Mas gostava de fazer outras coisas porque sinto que preciso disso para crescer como profissional. Mesmo em cinema só fiz pequenas coisas.

Nasceu a 20 de Junho de 1978, em Loures. São daí as primeiras recordações?

Sim, cresci em Loures. A minha educação foi feita na rua, a andar a cavalo e a subir às árvores. Fui criada na quinta centenária da família da minha mãe. Era um palacete com muito terreno, que ao longo dos anos foi sendo vendido. Hoje em dia os meus pais já não vivem lá.

E tem esse imaginário de infância, de viver num palacete?

É a minha base, não vou esquecer nunca. Sou a pessoa que sou pela infância que tive. E eu gosto daquilo em que me tornei, sinto que sou muito fiel às minhas origens. Não me deslumbrei com nada e valorizo-me por isso. E, por vezes, sinto falta de voltar e alimentar essas origens. É essa a minha essência. E quando não estava na quinta estava na praia, porque a minha avó tem um restaurante na Praia do Castelo, na Costa da Caparica. Vivi sempre entre as duas coisas, a quinta e a praia. Tenho os joelhos destruídos, não sabia usar saltos altos e quando me convidaram pela primeira vez para fazer publicidade disse logo que nem pensar! Senti-me sempre muito mais dinâmica e menos feminina do que este meio iria exigir. Mas acabei por ser empurrada, e ainda bem.

Mas não tinha planos sobre o que queria fazer na vida?

Ia tendo. Andava no ballet, queria ser bailarina. Dedicava-me sempre muito ao que estava a fazer, mas ia experimentando várias coisas.

Em entrevistas passadas disse que os seus pais eram conservadores. Isso traduzia-se em quê?

Traduzia-se em coisas como, a partir de determinada hora, não podia estar fora de casa ou não poder sair com os amigos sem o irmão mais velho ir atrás. Muito menos com amigos só rapazes! Mas tinha um excelente cúmplice que era justamente o meu irmão, que não estava para me aturar atrás dele. Portanto saíamos juntos, mas depois cada um ia à sua vida. Ele é mais velho dois anos e meio e a nossa relação foi sempre muito boa. Ele teve sempre um sentido de protecção muito grande para comigo e para com a minha irmã, cinco anos mais nova. Somos muito parecidos. Os meus irmãos são os meus melhores amigos e estamos sempre juntos. Ainda hoje, eles são o meu mundo.

Ajudam-na a manter os pés no chão?

Nunca deixei de os ter, mas claro que é fácil uma pessoa habituar-se a receber atenções especiais, e depois há a necessidade de que isso se mantenha. Preciso de estar com os meus e de ter momentos de introspecção, de voltar a dominar a minha vida, de desligar o telefone.

A primeira vez que foi convidada para fazer publicidade, recusou. O que a fez mudar de ideias e aceitar o convite para trabalhar em moda?

Era algo que não ambicionava. Tudo aconteceu de forma muito natural. Resisti durante alguns anos em tentar algo neste mundo, mas depois uma coisa levou à outra. Foi a partir de um desfile que tive acesso a uma agência e mais tarde, já na L’Agence, é que me convenceram a fazer o casting para os Morangos.

Chegaram a pedir-lhe que emagrecesse. Nessa altura pensou deixar a moda?

Completamente. Durante toda a minha adolescência sempre fui muito magra e durante anos tentei engordar. Após todo o trabalho que tive para me sentir confortável com o meu corpo, não queria voltar a perder peso.

Como é que os seus pais encararam essa incursão na moda?

A minha mãe sempre gostou que fizesse uns desfiles, umas publicidades… Havia aquela vaidade de mãe. Mas nunca acreditou que fosse para a vida. Já o meu pai foi-se conformando e foi permitindo. O meu pai queria que me tornasse independente e que crescesse enquanto profissional, mas o primeiro embate com a moda foi terrível. Ele não queria nada e isso provocou algumas discussões.

Lembra-se do primeiro cachet?

O primeiro com algum volume foi uma campanha para o McDonald’s com televisão, outdoors e imprensa. Todos os restaurantes estavam decorados com a minha imagem. A primeira vez que entrei num nem acreditei! Tinha uns 18 anos. Não me lembro quanto ganhei. Mas ainda antes disso, num trabalho mais pequeno, comprei uma acelera às escondidas dos meus pais. Sempre tive necessidade de independência.

O que fizeram os seus pais quando descobriram?

Tiveram de aceitar porque, na altura, achavam que era a mota de um amigo que ia para fora e não tinha onde a estacionar. Entretanto eu aproveitei e tirei a licença.

A estreia em televisão aconteceu na sitcom Maré Alta. Que recordações guarda dessa experiência?

Senti-me completamente deslocada e fora do meu elemento.

Mas nunca lhe tinha passado pela cabeça ser actriz?

Nunca fui uma apaixonada pela representação, nunca foi um objectivo de vida. Entretanto tinha criado uma empresa de organização de eventos, e provavelmente seria por aí o meu futuro. Além disso, gostava muito de desporto. Depois disso fui ao casting para os Morangos com Açúcar porque a agência me disse para ir porque eu fazia muita publicidade, mas não me interessava.

Como correu?

Não fui escolhida. Quando faltava um mês e meio para arrancarem as gravações, uma actriz teve de sair e uma outra teve de trocar de papel. No meio disto foi preciso ir rever os castings para arranjar outra Ana Luísa, a protagonista. Acharam que eu tinha a ver com a família Rochinha e chamaram-me para uma reunião. Pensei que fosse para fazer uma participação, mas era para a protagonista. Fiquei em pânico. Não queria acreditar que ia ser protagonista sem ferramentas nenhum mas. Puseram-me ao lado do Pedro [Teixeira], para verem se funcionávamos como casal. E embora!

Quando teve noção de que a sua vida ia mudar?

Houve vários momentos em que fui percebendo isso, se bem que, na altura dos Morangos, é tudo muito intenso e absorvente. Era mais velha e isso ajudou-me a ser consciente, a estar muito atenta, a querer aprender e fazer o melhor possível. Vivi os Morangos de forma consciente. No início, a minha preocupação era perceber que ‘canastrice’ andava a fazer. Isso preocupava-me tanto que, nos primeiros meses, não vivi o efeito de estar a fazer os Morangos. Ao final de uns meses, o reconhecimento das pessoas e a consciência de que me via a fazer aquilo para sempre deu-me a noção de que a minha vida tinha mudado. E para melhor, porque tinha encontrado uma coisa que queria muito fazer.

Como lidou com o epíteto de ‘moranguita’?

Nunca me senti ofendida por me chamarem moranguita. Não podia ficar ofendida porque foi o projecto que me deu a maior escola de representação. Foi como se tivesse aulas intensivas com realizadores, técnicos, directores de actores e diariamente tínhamos de apresentar trabalho. Claro que havia quem o dissesse de forma depreciativa.

Sendo um pouco mais velha apercebia-se dos excessos que se viviam entre o elenco, dos quais o episódio mais dramático foi a morte de Francisco Adam?

Vamo-nos apercebendo de muita gente a estar deslumbrada e a levar a vida ao limite, a todos os níveis. Como se fossem pilotos no limite da velocidade. Quando estamos numa série de sucesso, a vida muda. Há um mundo de oportunidades à nossa volta e queremos tudo. Essa ambição é assustadora. Somos requisitados para muita coisa, há muitas marcas interessadas em nós, as presenças eram uma loucura, era dinheiro fácil! Foi fácil aperceber-me de que havia pessoas que estavam a deixar-se levar por coisas que não são a vida. Ainda assim, alguns acontecimentos foram uma grande surpresa. Para mim, os excessos nunca foram uma questão.

Depois de Morangos com Açúcar, o primeiro trabalho foi Fala-me de Amor. Sentiu-se a chegar à primeira liga?

Sim. Passei dos juniores para a primeira liga. As gravações começaram e sentia-me à deriva. O que me disseram foi que, se ninguém me dizia nada, era porque estava a corresponder ao pedido. Lembro-me que, nesse projecto, fazia de irmã da Sandra Faleiro, uma actriz que adoro, e só queria que a minha representação não destoasse. Porque eu não me considerava actriz.

Mas já sabia que era isso que queria?

Sim. E é isto que vou ser, não tenho dúvidas. Mas tenho de trabalhar. Tenho as minhas referências e há cenas em que acho que estou bem e outras não. Mas esta vai ser a minha vida e esta sensação vai lá estar sempre. Vou virar louca, que é comum nos actores. É um fardo pesado. Nunca nos sentimos seguros.

Mudar da TVI para a SIC foi a decisão profissional mais difícil da sua vida?

Foi tão difícil! Na altura fiz uma viagem ao Brasil, com um programa da TVI, e já estava a negociar tudo. Foi tão complicado. Tudo o que estava a fazer ali poderia nem ir para o ar – e não foi. Depois sentia o conflito de saber que havia uma relação emocional muito grande com a TVI, que foi onde comecei. Mas por outro lado havia a consciência de que é com as mudanças que podemos crescer. Foi complicado gerir emoções.

O que pesou na decisão?

Muita gente acha que vim para a SIC porque havia a possibilidade de trabalhar como apresentadora. Não foi. Na altura não estava nada para aí virada. Quando fui convidada para apresentar o Ídolos fiquei surpreendida. O que pesou foi a relação SIC – Globo, foi o sair de uma casa onde já estava tudo acomodado, foi a sensação de querer fazer diferente e investir na ficção nacional e eu poder fazer parte desse arranque. Foi muito interessante o quanto me valorizaram.

Até em termos financeiros?

Sim.

Nos primeiros tempos de SIC sentiu-se a recomeçar a carreira?

Mais ou menos. Senti que era uma nova etapa. Mas fiquei muito feliz com o passo que dei. Não tenho dúvidas que foi uma mais-valia para mim. Não tinha um contrato com a TVI. Contavam sempre comigo, os meus tempos de paragem eram mínimos, senti que houve uma aposta em mim, mas não houve um contrato. Essa tentativa houve depois do convite da SIC. Houve uma guerra por mim e isso até foi simpático.

Como olha hoje para a ficção televisiva?

Acho que há uma guerra gigantesca. Enquanto actriz, tento pôr-me à margem. Gosto de observar o que move a escolha de determinados actores, como é que os canais criam os seus elencos, escolhem a sua história… Às vezes quase me apetecia fazer parte da produção para perceber como tudo funciona. Mas esta guerra não sei se é assim tão saudável para os actores como se diz. O actor não tem de se sentir responsável pelas audiências, mas inevitavelmente sente-se.

Vê muita televisão?

O meu domínio do comando deixou de existir porque há uma preocupação com aquilo que a minha filha vê. Não quero que a Maria seja só consumidora de novelas. E, acima de tudo, há algumas cenas que são impressionantes para ela e tenho sempre esse cuidado. Mas vejo sempre o Jornal da Noite, que adoro. E vejo um ou outro documentário e série, mas nada religiosamente.

E acompanhou o Factor X? Sentiu saudades do Ídolos?

Era inevitável não haver essa saudade, os formatos têm coisas em comum: são ambos de música e o João [Manzarra] apresentou ambos. As pessoas, na rua, questionavam-me sobre o João me ter trocado… [risos] Via-me perfeitamente a conduzir aquele formato.

Não foi colocada essa hipótese?

Não.

O que mais recorda nos Ídolos?

Quando aceitei existia um enorme medo em relação à apresentação e posso dizer que o facto de ter parado só faz com que volte a existir esse medo. Mas conforme existe medo, existe a vontade de superá-lo. O Ídolos marcou-me de diversas formas: ver o desejo de atingir algo dos concorrentes, que passavam horas em filas para darem tudo num casting… Fui muitas vezes para casa a pensar naquelas pessoas. Além disso, o directo é incrível. A adrenalina é viciante e os directos têm isso. Tenho saudades.

A personagem que interpreta em Sol de Inverno fez uma carreira na moda e agora enfrenta o fim dessa carreira. Deu por si a pensar no seu próprio percurso?

Acho que nunca vivi da minha imagem a sério. Nunca fui uma manequim top-model. Fui fazendo alguns trabalhos de moda. Fiz alguns desfiles, alguns catálogos. Fiz muita coisa de moda, já depois de trabalhar como actriz. Ou seja, nunca me senti refém da imagem. Mas acho que vai ser inevitável começar a questionar o envelhecimento E espero saber lidar com isso.

Tem receio de não conseguir encarar essas mudanças de forma pacífica?

Vejo muita gente da minha idade a sentir-se muito mulher, mas eu tenho alguma dificuldade em deixar de me ver como uma miúda. Sou responsável, mas vejo-me sempre como uma miúda. Mas há momentos nas nossas vidas que nos levam a querer virar uma página. Este é um desses momentos de querer deixar de me ver como uma miúda e sentir-me a adulta que sou: confiante, responsável, profissional, mãe.

Já não lida mal com o ser magra e alta?

Hoje em dia sou muito segura, sinto-me muito confortável com a minha imagem. O meu peso e a minha altura deixaram de ser uma preocupação. Acho que isso muda quando se é mãe. Antes, posar para uma revista masculina era algo que me custava muito porque não me via como uma mulher sexy. A primeira produção mais ousada que fiz tive de repetir porque não estava nada ousada – apesar de eu achar que estava a ser muito ousada. Hoje em dia fazer umas fotos dessas até me dá algum prazer. Mas continuo sem me ver assim. Acho que há um equilíbrio muito grande na minha imagem. Há o lado da Cláudia mulherão e sexy, mas também há a Cláudia madura e mãe e a Cláudia miúda e descontraída.

O público acompanhou o crescimento dessas ‘Claúdias’, da mesma forma que acompanhou a sua relação com Pedro Teixeira. Foram um casal adorado nos Morangos com Açúcar que passou da ficção para a vida real. Como se gere a fronteira entre o público e o privado?

Sempre gerimos quem entrava na nossa casa e na nossa vida: nunca houve um canal de televisão a entrar na minha casa nem nunca tornámos pública a nossa filha. Esta foi a nossa forma de mostrarmos que somos actores, mas que as pessoas não podem saber tudo das nossas vidas. Mostrámos um bocadinho da nossa relação, até porque o seu arranque foi acompanhado pelo público. Mas as coisas negativas não expomos. Quando as coisas estão mal, guardamos para nós. E isso aconteceu. Estive nove anos ao lado do Pedro, foi uma relação muito feliz, em que fomos muito amigos e cúmplices, mas tivemos as nossas discussões e problemas, como qualquer casal. Soubemos lidar com isso de maneira a não nos expormos. Mesmo uma pessoa que não é figura pública não expõe esses momentos.

Sendo um amor que o público sempre acompanhou, quando terminou, sentiu o desejo de viver a sua dor longe dos olhares dos outros? O que levou a que emitissem um comunicado?

Quando decidimos que cada um seguia a sua vida, avançámos com um comunicado por respeito pelo público. Uma separação custa sempre, assumimos que acabou para que houvesse respeito pela situação que estávamos a viver. E a verdade é que, no primeiro trabalho que fiz e no qual estive ao pé de muitas pessoas – e isto depois de receber milhares de mensagens a pedir para ficarmos juntos porque éramos um exemplo de uma história de amor verdadeira -, ninguém me abordou sobre o Pedro. Falaram-me de mim e da Maria. Isto mostra o respeito que o público tem por nós.

A imprensa teve o mesmo respeito?

Aconteceu o inevitável: passei a ter imprensa à porta de casa. E tinha duas opções: ou, durante uns tempos, deixava de viver na minha casa, ou mantinha a minha rotina. A minha opção foi manter a rotina e sujeitar-me a ter a imprensa ali. Mas a sensação é horrível, é de invasão, ainda por cima num momento menos bom.

Sente que provou o lado negativo da fama?

Acho que o facto de ter demonstrado o meu respeito pela imprensa e pelo público fez com que não tenha vivido esse lado mais negativo. Ainda assim, não é positivo o que vejo, mas exactamente por isso nem vejo. E também não ando a alimentar. É uma novela que se cria em volta de uma história de amor que acabou.

Sente que foi um ano em que aprendeu a sorrir mesmo quando não tinha vontade?

Sim.

E a lidar com a frustração?

Sem dúvida. Quer que desenvolva? Não posso.

raquel.carrilho@sol.pt