Dito&Feito

Paulo Portas, tão hábil, em regra, a gerir a informação política e mediática, permitiu que se instalasse a ideia de que o CDS teria direito ao n.º 2 e, muito provavelmente, ao n.º 7 da lista de coligação PSD/CDS às europeias de 25 de Maio. Ora, nem um nem outro desses lugares se confirmou. Antes…

Assinale-se que, de acordo com a lógica partidária e a racionalidade política, só podia ser mesmo assim. O CDS obteve, nas europeias de 2009, pouco mais de um quarto dos votos do PSD (8,4% para 31,7%). E elegeu 2 eurodeputados para 8 sociais-democratas.

Sabe-se, por outro lado, que, nestas eleições de 2014, Portugal terá menos um eurodeputado (21 em vez dos actuais 22) e que a coligação PSD/CDS, após três anos de dura austeridade imposta ao país e aos eleitores, dificilmente ficará acima dos 30% – o que equivalerá a eleger 7 eurodeputados (muito dificilmente chegando à eleição do 8.º). Dar o 7.º lugar da lista ao CDS significaria, para o PSD, correr o risco de ver os centristas manterem os seus 2 eleitos em Estrasburgo enquanto o PSD perderia 3, passando de 8 para 5…

Como é óbvio, era uma negociação impossível de aceitar na S. Caetano à Lapa. E, no entanto, Paulo Portas deixou alimentar esse cenário. Acabando por ficar a ideia de que o CDS fez um braço-de-ferro com o PSD e perdeu em toda a linha na lista ao PE – um verdadeiro tiro no pé de Portas.

No que respeita ao PSD, os nomes da lista e a sua ordenação representam o triunfo, absoluto, da lógica aparelhista sobre os critérios de competência em políticas europeias ou de qualidade profissional e intelectual. O que contou foi a repartição de lugares pelas estruturas distritais do partido, preencher à força quotas femininas ou regionais, recompensar lealdades das clientelas.

Marco António Costa, reconheça-se, é um especialista do aparelhismo nesta distribuição de lugares e prebendas – obviamente, com o beneplácito e a aquiescência de Passos Coelho. Que até quis aproveitar esta oportunidade para despachar Alberto João Jardim para Estrasburgo. Sem sucesso, como se viu.

jal@sol.pt