‘Quando já estava a fazer os Morangos não pensava que ia ser actriz’

Nunca procurou sequer informar-se como poderia participar num casting, mas um acaso levou-a a participar em Morangos com Açúcar. Depois de quase uma década na TVI, Mariana Monteiro aventura-se na RTP para abraçar dois projectos: como actriz, na nova série Mulheres de Abril, e como apresentadora, no concurso The Voice Portugal.

Começou o seu percurso nos Morangos com Açúcar. Sempre pensou ser actriz?

Não cresci com ideias fixas do que quereria ser. Cheguei a estar num clube que tinha actividades, uma delas era teatro e eu adorava, mas como hobby. Não achava que tinha talento ou potencial e não era uma via que imaginava como o meu futuro. Em 2005, acabo o 11.º ano e vou para os Morangos com Açúcar.

Procurou essa oportunidade?

Não. Em Fevereiro, vim com a minha mãe passar uma semana a Lisboa e uma agência estava a fazer uma abordagem na rua. Não me inscrevi logo mas encontrei a rapariga duas vezes naquele dia e ela acabou por me convencer. Acho que foi uma coisa de destino e é algo que me faz acreditar sempre que cada passo que dou não é por acaso. Fui para os Morangos mas nunca procurei um casting. Passado um mês, ligaram-me da agência e achava que era alguém a brincar comigo, estava completamente descontextualizada. Fui a um casting e algum tempo depois disseram-me para procurar escola e casa em Lisboa porque tinha ficado com o papel.

Como reagiu à notícia?

Fiquei em êxtase.

Como correu a experiência?

Foi dos momentos mais marcantes da minha vida. Mas mesmo quando já estava a fazer os Morangos, não pensei que ia ser actriz. Pensei apenas que ia ser uma experiência diferente e foi o que vendi aos meus pais. Acabou por ser mais que isso. [risos]

Nessa altura, passou de uma pessoa anónima a alguém que as pessoas conheciam. Era muito abordada na rua?

Muitíssimo, e ao início fazia-me muita confusão. A televisão tem esse poder, de um dia para o outro as pessoas sabem quem és. No dia a seguir aos Morangos terem ido para o ar, as pessoas olhavam para mim de outra forma. Sentia-me muito observada, reparava em toda a gente que olhava para mim e depois fui deixando de reparar.

Depois dos Morangos, seguiram-se várias novelas. Nunca teve receio de que a associassem a um certo tipo de personagem?

Não, porque fui trabalhando o meu percurso. Houve alturas certas para fazer a ‘boazinha’, e eram personagens e projectos que me pareciam interessantes. Na novela Fascínios, fiz de indiana e entrei numa realidade completamente oposta, numa cultura diferente. Em novela, foi das personagens que me deram mais gozo. No processo de construção, visitei muitas vezes a comunidade hindu, fui até à Índia – custou-me muito porque na altura tinha uma fobia muito grande de andar de avião -, vi muitos filmes indianos, fiz uma pesquisa muito intensa. E brevemente irão ver-me num novo projecto, novamente num novo registo.

Em que consiste esse novo projecto?

Este ano, o 25 de Abril faz 40 anos, então a RTP decidiu fazer esta série que se chama Mulheres de Abril. Vai ser um ponto de vista feminino da revolução, é interessante porque não é centrado só no golpe militar. Vemos pessoas normais, da época, a viverem esse momento, e não só: há uma linha cronológica bastante abrangente, entre os anos 20, 70 e o novo milénio.

Como se deu a sua saída da TVI?

Deixei de ter contrato exclusiva com a TVI, onde estive oito anos. Foi lá que cresci e fui sempre muito acarinhada. Simplesmente acho que tudo tem um ciclo. É importante haver estas mudanças para se crescer e na TVI já estava muito em casa. É uma tentativa de sair da zona de conforto e experimentar novos desafios.

Outro dos desafios vai vivê-lo como apresentadora do programa The Voice Portugal, também na RTP. Como surgiu esta oportunidade?

Foi no início do ano. Pensei que seria um bom desafio, primeiro porque estava a fazer novelas consecutivas e precisava de respirar. Por outro lado, porque era uma oportunidade para ver como me sentia num registo diferente, neste caso de apresentação. Queria ambivalência, queria uma oportunidade para, se um dia surgirem outros desafios nesta área, poder optar por eles e não estar só restringida à representação. Mas devo frisar que é na representação que me sinto a 100%. Considero-me actriz, e não apresentadora.

Qual será o seu ‘papel’ no programa?

Vou estar a conduzir os diários, de segunda a sexta-feira, onde se vai conhecer melhor o mentor, explicar o formato do programa, mostrar imagens de bastidores, etc. Depois, nas galas, a Catarina [Furtado] e o Vasco [Palmeirim] estarão no palco e eu vou estar com o Pedro Fernandes na Sala Vermelha, por onde passam os concorrentes.

Há pouco dizia que se sente verdadeiramente actriz. Não tem medo das ideias pré-concebidas que algumas pessoas formam acerca das actrizes que se tornam apresentadoras?

Não, acho que é algo que cada vez mais acontece lá fora. Se surge um desafio em que uma actriz consegue prestar bem o serviço de apresentadora, por que não? Apesar das grandes diferenças, há um à-vontade que ajuda e, pelo menos, já se conhece o ambiente de televisão. Mas não me posso considerar apresentadora – vou apenas emprestar a minha juventude e a minha forma de ser a um programa de música.

O público vai passar a ver mais a verdadeira Mariana?

Esse vai ser o meu grande desafio, o de quebrar com essa vergonha e mostrar um bocadinho mais de mim. Quando estou em público e é a Mariana que tem de vir ao de cima, sou um bocadinho tímida. A representação acaba por ser um refúgio e agora será um bocadinho diferente.

rita.porto@sol.pt