“As palavras do PR confirmam que não há fim do programa de ajustamento”, escandalizou-se Marisa Matias em nome do Bloco de Esquerda. “Cavaco Silva veio proclamar que, durante os próximos 20 anos, o país e os portugueses vão ter de se sujeitar a andar com a pulseira electrónica”, indignou-se Jerónimo de Sousa falando pelo PCP.
Mas por onde têm andado Marisa Matias e Jerónimo de Sousa? Aterraram agora no país vindos de Marte ou da Coreia do Norte? Não sabem que está há muito estipulada a monitorização da troika em Portugal até 2035, quando (e se) estiver reembolsado 75% do empréstimo concedido ao país? Só descobriram agora que as exigências de rigor por parte dos nossos credores irão continuar muito para lá de 2014 e do ‘1640’ de Paulo Portas?
Cavaco limitou-se a recordá-lo, como aviso à navegação, no prefácio do seu livro Roteiros VIII. Não foi novidade. Tal como não foi novidade insistir na preferência por uma saída com um programa cautelar. Já o havia deixado bem claro na sua mensagem de Ano Novo. E também não foi novidade exigir um consenso de médio prazo sobre a política económica a PS, PSD e CDS. Há muito que vem batendo nessa tecla e, na crise de Julho de 2013, o PR até chegou a prometer ao PS a antecipação de eleições a troco desse consenso.
O que pode ser novo é Cavaco insistir nestas questões sabendo de antemão que continuará a bater com a cabeça na parede. No dia seguinte à divulgação do prefácio, António José Seguro repetiu que o PS não entrará em qualquer consenso antes das legislativas de 2015. Dois dias depois, foram o Eurogrupo e a ministra das Finanças a confirmarem que a solução será uma saída limpa e não um programa cautelar. O Presidente continuará, pois, nestas matérias, a falar sozinho.
O que é mesmo novidade, no reino cavaquista, é ver dois assessores de Belém e Manuela Ferreira Leite a assinarem um manifesto da esquerda radical como se não fosse nada. Os assessores foram rapidamente exonerados. Manuela continua a ser uma dilecta e cada vez mais embaraçosa pupila de Cavaco.