Com o bloqueio marítimo britânico e com a máquina militar a consumir mais de 7 milhões de barris/mês, o problema agravou-se.
Apesar da captura de recursos nos países conquistados em 1940-41, o défice energético foi um dos calcanhares de Aquiles de Hitler. Foi a carência petrolífera que determinou a sua estratégia de conquista dos campos russos do Cáucaso. Depois, na impossibilidade de tomar os campos de Grozni e Baku, aumentou a importação da Roménia e a produção nacional e só se aguentou até à Primavera de 1944 graças aos combustíveis sintéticos e às severas restrições que impôs ao consumo civil.
A crise russo-ucraniana é outro exemplo da equação energia-geopolítica, das suas relações e dos seus limites.
Ao contrário de Hitler, que secundarizava as questões económicas, Putin doutorou-se com uma tese sobre os recursos energéticos e o poder nacional. E parece estar a pôr em prática o que estudou, usando o factor energético como instrumento político: sob o seu governo os países da ex-União Soviética gozam de especialíssimas condições e descontos (em 2005 a Europa comprava o gás russo ao triplo do preço do que era vendido aos países da ex-URSS).
Em 2006 e 2009, a Ucrânia sofreu cortes de abastecimento e viu essa vantagem reduzida. Em 2008, o FMI apoiou-a para a libertar do ónus. No acordo russo-ucraniano de Abril de 2010, o desconto voltou, mas com o aluguer da base naval de Sebastopol à frota russa do Mar Negro.
Perante a recente confrontação, alguns comentadores americanos (como Michael Wara do New York Times) opinam que os Estados Unidos deviam incrementar as suas exportações de gás líquido para a Europa, para aliviar a dependência do gás russo. E ter atenção especial aos países do Leste europeu, influenciando a Turquia para esta permitir o trânsito dos metaneiros pelo Bósforo e apoiando os esforços dos países bálticos na construção dos seus terminais de GNL e da Polónia, cujas reservas de gás natural são as maiores da Europa, depois da Rússia (4,2 triliões de metros cúbicos). A Ucrânia tem também grandes reservas (3,6 triliões m3), e a Shell, a Chevron e a Exxon-Mobil têm projectos em curso para a sua exploração.
Mas além da questão económica – o gás russo será sempre mais barato que o GNL americano – é duvidoso que Putin vá permitir que a economia lhe imponha um diktaat. Foi pelo atraso industrial e tecnológico perante os Estados Unidos que a União Soviética perdeu a guerra fria, mas a economia e a tecnologia foram instrumentais só. A derrota veio da percepção de Gorbachev dessa inferioridade e da ideia de que tinha que mudar a política para melhorar a economia.
Não é essa a percepção nem a ideia de Putin.