Mudam-se os tempos

O Dalai Lama, numa entrevista a Larry King, disse aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo “desde que os relacionamentos sejam consentidos e satisfatórios para os dois”. Quem seguir os preceitos religiosos deve, no entanto, continuar a cumprir os preceitos religiosos. Os não crentes podem fazer como acharem melhor. Tendo em conta que nos…

‘Obrigada’

Decidi ver o filme Gravity, de Alfonso Cuarón, por causa das várias nomeações que teve para os Óscares. À partida, nada me levaria a assistir a um filme passado no espaço, porque não sou fã de ficção científica. Com poucas expectativas, mas com curiosidade, fiquei presa ao ecrã, em empatia com a Dra. Ryan Stone (magnificamente interpretada por Sandra Bullock) naquele dia tão exigente da sua vida. Ser passado no espaço é um pormenor neste filme sensível acerca da fragilidade do ser humano, uma formiga no universo, e da sua capacidade de sobreviver graças a uma série de virtudes e algum conhecimento. O que mais impressiona no filme não são os efeitos especiais, mas as expressões de Sandra Bullock, entre o pânico e a incredulidade, o choro e a vontade de desistir, que luta por pôr os pés no chão. Ou melhor, os efeitos especiais estão ao serviço das emoções humanas numa luta solitária e difícil pela sobrevivência. Um filme fantástico, a não perder.


Lavados em lágrimas

Um link num artigo divertido no site da revista The Atlantic sobre os melhores sítios públicos onde os habitantes de Nova Iorque podem desatar a chorar levou-me ao blogue NYC Crying Guide (cryingnewyork. tumblr.com). Aí poderá encontrar indicações sobre os melhores e os piores sítios em NI para chorar. Os melhores podem ser o metro, adequado para quem não quer chorar sozinho, ou os provadores de lojas de roupa, para quem quer. Entre os piores estão as entradas de edifícios com recepções, porque têm seguranças que interrompem o choro para saber se o choroso precisa de alguma coisa. Não sei se haverá bons sítios públicos em Lisboa para chorar baba e ranho e não ser interrompido com perguntas. Talvez o jardim da Gulbenkian, lá para o meio. Qualquer sítio às escuras parece indicado, como o cinema. No teatro menos, por causa dos soluços. Mas na rua, em Lisboa, é difícil porque aparece sempre alguém conhecido a querer saber o que se passa. É pena.


De chorar por mais

Getting on é o título de uma série da HBO baseada noutra homónima da BBC. As histórias acontecem na ala de geriatria de um hospital. As personagens principais são a chefe de serviço, uma médica egocêntrica que sonha com o reconhecimento como investigadora com o seu trabalho sobre fezes na terceira idade; um enfermeiro-chefe de sexualidade confusa; uma enfermeira incompetente e obcecada por ter um namorado e outra enfermeira, subalterna, que é a única personagem sensata. E, claro, os pacientes, todos velhos e todos diferentes nas suas necessidades, personalidades e manipulações. A realização segue o caminho aberto pelo pioneiro The Office: há uma câmara móvel que segue as personagens com indiscrição. O humor é cruel, mas irresistível. Os actores que fazem de pacientes são hilariantes, credíveis e até verídicos. Parece que a HBO esteve quase a suspender a série, mas felizmente teremos pelo menos mais uma temporada. Ainda bem para nós.


101 tweets

Não estamos na época em que se fazem previsões, mas penso que nas eleições europeias a abstenção em Portugal será mais elevada do que o habitual. Ninguém está interessado em ouvir falar da Europa e da moeda que beneficia os países ricos e que prejudica os países pobres. Os candidatos dos principais partidos, Rangel e Assis, não revelam diferenças substanciais entre si; não que levem os eleitores a chegar mais tarde à praia porque foram votar. Neste panorama desolador, Paulo Rangel cometeu a desastrada ousadia de tentar falar como se fosse um assíduo do Twitter. O manifesto em 101 tweets, “tantos quanto os dálmatas”, é uma ideia tão embaraçosa como ter o avô a usar ‘bué’ a despropósito quando fala com o neto. É impossível captar a atenção do público mais jovem a usar o mesmo vocabulário, sobretudo quando se tem uma imagem tão formal. Referir tweets com “menos de 300 caracteres” revela desconhecimento sobre o meio. Já agora, cada tweet tem 140.