Carlota Guerreiro
Vou confessar-lhe uma coisa: também tenho uma divergência de opiniões e comportamentos com o meu marido sobre esse assunto. Ele gosta de fechar todas as portas, sempre com o terror das correntes de ar. Eu gosto das portas abertas, e costumo dizer que as correntes de ar são tiques populares.
Na prática, assentámos em que as portas das zonas sociais da casa ficam abertas, mas as de zonas mais íntimas (quartos e casas de banho) se fecham. Quando os meus filhos eram pequenos, tirava as chaves dos quartos e casas de banho deles, e evitava que se lhes fechassem as portas, por razões óbvias de precaução.
Mas, como sou de uma família de lavradores alentejanos, seguia-se em casa dos meus pais (e agora na minha) o mesmo princípio que vigora no campo, e que me parece muito lógico: deixar sempre as portas como se encontram, fechadas ou abertas. No campo, o motivo é possibilitar ou não a movimentação de animais em casa, respeitando a vontade dos seus proprietários.
O famoso arquitecto português Raul Lino costumava dizer que “se as portas fossem feitas para ficar abertas, não valeria a pena tê-las”. As princesas Borghese e von Táxis, no seu Dicionário de Bons Costumes, dizem que as portas se devem fechar sempre atrás de nós, especialmente as dos quartos, casas de banho e cozinhas – o que parece justificável, porque são zonas de intimidade ou que podem libertar cheiros.
