É que esta invasão não é feita com canhões, espadas ou espingardas. É feita com dinheiro. Por isso, aqui, canta-se os mercados e o novo discurso economês, sempre acompanhados ao piano e ao acordeão.
É este o cenário de Cabaret Alemão, em cena no Teatro do Bairro, às segundas e terças, num texto de Luísa Costa Gomes, encenado por António Pires e protagonizado por, entre outros, Maria Rueff e Sofia de Portugal.
O ambiente é o de café-teatro, com os espectadores sentados à mesa, e não é difícil esquecer que esta é uma peça: fácil é acreditar que se entrou mesmo naquele cabaret e que tudo é real, tanto a ocupação como as mentes subversivas que ali se reúnem. Mas aquilo que parece referente ao presente ou a um futuro próximo é, afinal, uma recriação do que se viveu nos anos 30 e no início do III Reich. As semelhanças com o presente serão pura coincidência?
Teatro político este, que não se engasga na mensagem nem tem subtilezas no discurso. Há uma crítica dura à actualidade e aos intervenientes, bem como ao clima de medo e insegurança em que se vive. Mas por piores que sejam os tempos, aqui não se chora: tudo é feito em ambiente alegre, bem-disposto, onde não faltam risos ou vontade de cantar. O humor está aqui no seu melhor, usado como arma política para despertar consciências.