Rir para não chorar

Numa cave do Bairro Alto, num Portugal ocupado pela Alemanha, um núcleo de resistentes reúne-se num cabaret. E enquanto discute a ocupação e a submissão portuguesa à potência invasora, vai cantando os seus males e desgostos, enquanto pensa alternativas. As palavras são ditas com cuidado, sempre com um olho na porta. Uma senhora de cabelos…

É que esta invasão não é feita com canhões, espadas ou espingardas. É feita com dinheiro. Por isso, aqui, canta-se os mercados e o novo discurso economês, sempre acompanhados ao piano e ao acordeão.

É este o cenário de Cabaret Alemão, em cena no Teatro do Bairro, às segundas e terças, num texto de Luísa Costa Gomes, encenado por António Pires e protagonizado por, entre outros, Maria Rueff e Sofia de Portugal.

O ambiente é o de café-teatro, com os espectadores sentados à mesa, e não é difícil esquecer que esta é uma peça: fácil é acreditar que se entrou mesmo naquele cabaret e que tudo é real, tanto a ocupação como as mentes subversivas que ali se reúnem. Mas aquilo que parece referente ao presente ou a um futuro próximo é, afinal, uma recriação do que se viveu nos anos 30 e no início do III Reich. As semelhanças com o presente serão pura coincidência?

Teatro político este, que não se engasga na mensagem nem tem subtilezas no discurso. Há uma crítica dura à actualidade e aos intervenientes, bem como ao clima de medo e insegurança em que se vive. Mas por piores que sejam os tempos, aqui não se chora: tudo é feito em ambiente alegre, bem-disposto, onde não faltam risos ou vontade de cantar. O humor está aqui no seu melhor, usado como arma política para despertar consciências.

rita.s.freire@sol.pt