Pós-troika: Portugal será o 2.º pior aluno do euro

O pós-troika promete ser duro para as famílias portuguesas e para a economia, cuja distância para a Europa vai continuar a alargar-se nos próximos anos. Segundo um índice compilado pela agência Bloomberg, que agregou alguns dos principais indicadores da ‘saúde económica’ de um Estado – crescimento da economia, rendimento per capita, desigualdade na distribuição da…

Pior só a Espanha, que é o principal parceiro comercial da economia nacional, para onde são canalizadas um quarto das exportações portuguesas. Os resultados do índice, que usa dados do FMI e do Eurostat, não deixam de ser um ‘balde de água fria’ para a Europa e para o sucesso da ‘receita’ para combater a maior crise da história da UE.

O ‘fosso’ entre os estados do Norte e Sul da Europa vai continuar a alargar-se e o futuro dos países resgatados é pouco animador. Dos cinco Estados-membros intervencionados pela Comissão Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional, quatro deles (Grécia, Portugal, Espanha e Chipre) ocupam os últimos lugares no ranking em termos de evolução futura das economias.

Em Portugal, a intervenção externa da troika em 2011 evitou o colapso financeiro do país, com um cheque de 78 mil milhões de euros. Ao mesmo tempo, foram introduzidas reformas estruturais para inverter o crescimento anémico dos últimos dez anos e tornar Portugal um destino atractivo ao investimento externo.

Três anos volvidos e com o resgate a dois meses do fim, Portugal e os seus parceiros de periferia vão manter-se como os ‘doentes’ da Europa. Até 2018, pelo menos.

O país vai continuar a ser o mais desigual de toda a Zona Euro, a taxa de desemprego será a quarta mais elevada da região e a economia nacional irá ainda crescer abaixo da Grécia e da Irlanda nos próximos cinco anos. Contas feitas, Portugal terá a segunda pior ‘saúde económica’ entre os 18 membros da moeda única europeia.

O crescimento até nem é dos piores indicadores do país – o PIB deverá expandir-se a uma média de 1,5% entre 2014 e 2018 – mas ficará, ainda assim, abaixo da média da Zona Euro (1,89%), prolongando os anos de divergência com a UE.

Mas é para as famílias que o cenário é mais sombrio. O rendimento per capita português em 2018 será de 18,3 mil euros: cerca de metade da média europeia, só superior à Letónia e Eslováquia. Dentro de cinco anos, o desemprego vai continuar a afectar mais de 16% da população activa portuguesa. Portugal é ainda, segundo os dados da Bloomberg, o país europeu onde a diferença entre o salário médio e o salário mínimo é mais pequena.

Os dados da agência financeira revelam também que os países parceiros de resgate de Portugal, como a Irlanda e a Grécia, vão ter destinos mais optimistas do que Lisboa. O crescimento médio de Atenas nos próximos cinco anos será de quase 3%, enquanto o outlook da Irlanda, país que Portugal sempre quis acompanhar ao longo da intervenção, será mesmo superior ao da Alemanha, a maior economia europeia.

O ‘fosso’ entre os países do Norte e Sul e uma Europa a duas velocidades são outras evidências. Estados como a Finlândia, a Holanda, a Áustria e o Luxemburgo vão crescer perto de 2%, com um desemprego a rondar os 7% e rendimentos muito acima da média europeia. Mas duas das maiores economias, Itália e Espanha, não vão expandir-se muito além de 1%.

Esta fraca performance é também um factor de pressão sobre toda a periferia da Europa, cujas trocas comerciais passam muito por Madrid e Roma. A desigualdade na região da moeda única é uma evidência: entre o maior e menor rendimento per capita há uma diferença de seis vezes: Luxemburgo tem quase 100 mil euros por habitante e a Letónia apenas 15 mil.

luis.goncalves@sol.pt