Impressões verdadeiras
Há dias fui acusada de ter feito uma crítica aos críticos de Kim Novak. A acusação tinha como fundamento uma verdade não escrita de o exercício de criticar quem critica ser irrelevante. Fiquei a pensar nesta crítica à minha crítica aos críticos e não fui capaz de lhe atribuir nenhum sentido, pelo que concluo que se trata de uma impressão como qualquer outra, verdadeira e relevante como são as impressões, além de incorrigível também ela enquanto tal, como a minha impressão e as que a provocaram. Há um ponto sobre impressões em que todos temos razão e essa razão está no que nos toca a nós e só a nós, por mais que seja comum à humanidade, que é. Não há engano no que sentimos. Por exemplo, Donald Trump reagiu à aparição da super-operada Kim Novak com o seguinte tweet: “Devia demitir o cirurgião plástico”. Tem razão. Depois houve quem lhe dissesse: “Olha lá, e se te metesses na tua vida?”. Também tem razão. E depois: “Não ligues ao Trump”. Também.
Só no continente asiático
Muitas novidades nos trouxe o X File do voo 370 das Linhas Aéreas da Malásia. Para surpresa de muitos, eu incluída, parece que é possível um Boeing desaparecer. Numa altura em que se queixam de falta de privacidade e dos meios sofisticados de vigilância, um avião enorme pode esconder-se ou perder-se ou esfumar-se. Por outro lado, li que os radares militares já deram com ele e não contam a ninguém para não revelar o seu altíssimo nível de vigilância. Também já li que não deram com ele e que não contam para não mostrar a ineficácia das suas defesas. Outra novidade deste mistério está na esperança de ter sido um sequestro. É interessante quando o rapto é uma boa notícia. Para concluir, a China ficou indignada com o governo malaio por não ter fornecido todos os dados nas 24 horas a seguir ao desaparecimento do avião. Logo a China que sempre se destacou pela sua transparência, rapidez e frontalidade em informar seja quem for de fosse o que fosse.
Más decisões
Felizmente, nem só de impressões vive a humanidade. Tomamos decisões para as quais as impressões não são chamadas ou não podem ter um peso excessivo. Há que argumentar a favor do que defendemos. Assim parecia ter acontecido com sucesso quando o projecto de lei sobre a co-adopção foi aprovado com votos a favor do PSD e abstenções do CDS-PP. Fiquei admirada por os deputados fazerem o que tinham a fazer. Foi uma sensação refrescante, que seria substituída meses depois pelo mofo habitual do chumbo da lei que permitiria um cônjuge adoptar o filho do outro cônjuge no âmbito do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Neste momento, há uma desprotecção destas crianças que pode até ser ilegal. Não gostava nada de ser responsável pela entrega de uma criança a uma instituição ou a uma família ausente porque a mãe morreu e não pode continuar a viver com a outra mãe, porque não pôde ser adoptada por ela. Se dormem bem com esta decisão, é muito mau sinal.
Caros tribunais…
… de todas as instâncias do país e arredores, venho, por este meio, solicitar o perdão do pagamento de duas multas de estacionamento, uma no valor de 30 euros e outra no valor de 60. Apresento três razões por que solicito o perdão das multas e não arrasto o assunto pelos tribunais até chegar o dia da prescrição das mesmas, seguindo os nobres exemplos de Jardim Gonçalves, João Rendeiro e Oliveira e Costa. Primeiro, não é preciso ser um génio para perceber que uma pessoa que Vos escreve por causa de 90 euros também não está disponível para contratar advogados para arrastar o caso indefinidamente. Segundo, ao contrário dos três cavalheiros que mencionei, não tenho tempo para prescrições. Só pessoas de uma certa idade não têm pressa na vida. Por último, a possibilidade de haver prescrições de multas de milhões de euros dificulta bastante a V. recusa. Entenderei o V. silêncio como um sinal de aprovação ao meu pedido. Cordialmente, Carla Quevedo.