Vhils: ‘Não consigo dar um nome ao que faço’

Aos dez anos fugia de casa para pintar muros. Aos 14 pintava comboios. Não teve média para entrar na Faculdade de Belas Artes, mas quando a prestigiada Central Saint Martins, em Londres, viu o seu portfolio aceitou-o, apesar de mal falar inglês. Alexandre Farto, ou Vhils, começou nos graffiti, mas aos 27 anos é uma…

Está a preparar, para Julho, uma exposição no Museu da Electricidade, em Lisboa. Como surgiu o convite?

Já tinha trabalhado várias vezes com o João Pinharanda, curador da Colecção Cachola, no Museu de Elvas. Tenho peças lá e desde aí que temos uma relação. Em Setembro começámos a falar neste projecto e no final do ano fechou-se.

Será uma espécie de retrospectiva?

Não. Aliás, quis distanciar-me da ideia de retrospectiva porque tenho 27 anos. Mas também é verdade que, nos últimos três ou quatro anos, o trabalho ficou cada vez mais consistente. Só este ano já tenho uns 50 e tal projectos agendados e 2015 já está a ser preparado. Tenho trabalhado bastante e nunca houve oportunidade de ter uma exposição com esta escala em que conseguisse fazer uma reflexão, mas também puxar o trabalho numa direcção que faça sentido.

Passa a ser o primeiro artista nacional com génese na street art a fazer uma exposição com esta escala. Isso traz uma carga extra de responsabilidade ou não pensa muito nisso?

Não pensei muito nisso. Mas a verdade é que o trabalho que farei aqui é completamente diferente daquele ligado aos graffiti e à street art. São duas coisas diferentes e sempre as tentei distanciar. Claro que é natural que o meu background se reflicta. Mas acho que o nome street art é redutor. Não consigo dar um nome ao que faço.

A exposição já tem tema?

Sim. ‘Dissecação’. A ideia é dissecar a cidade e o espaço urbano e olhar para aquilo que vemos todos os dias de maneira diferente. E reflectir sobre a cidade.

Há a ideia que trabalhar com um grande museu ou uma grande marca subverte a origem dos graffiti, mas disse uma vez que era preciso tirar de um lado para distribuir do outro. É por isso que trabalha para grandes empresas?

Sim. Não é a coisa que mais gosto de fazer. Mas quando temos uma grande estrutura e temos projectos para tornar sustentáveis, é uma coisa que se tem de fazer. É algo que me dá liberdade para ter outros projectos, como o Morro da Providência, no Brasil. Essa ideia da subversão é sensível, mas acho que desde que o trabalho seja honesto e não se comprometa em termos de conceito, a questão não existe. É importante que o trabalho não se esqueça de onde veio.

Ao mesmo tempo disse que o graffiti é ilegal e assim deve continuar. Porquê?

Ter liberdade para pintar uma parede, onde passam pessoas todos os dias que de repente vêem uma coisa diferente e isso muda-lhes o dia – essa é a força que o graffito pode ter. Não tem de ser legal. A partir do momento em que passasse a ser legal, as pessoas passariam a estar predispostas para o receber. Quando se trabalha no espaço público, o factor surpresa é o ponto mais forte. O espaço público cada vez tem menos peso. A comunicação hoje em dia está distante da rua. Mas a rua tem de se tornar algo interessante e não estéril para que continue a ser apelativa e consiga competir com outros meios.

Prestamos pouca atenção ao espaço que nos rodeia?

Sim. Antigamente as pessoas encontravam-se na rua, discutiam na rua. Hoje em dia, o espaço público é um caminho cinzento que só tem espaço para a sinalização e a publicidade. Deixou de ser um espaço onde há participação. Não só nas paredes, mas ao nível de outras intervenções, como performances. As cidades só ganham em ter actividade nas ruas, em vez de serem espaços estéreis. O facto de haver uma série de câmaras municipais com projectos a este nível reflecte que percebem a diferença que isto representa na cidade.

Lisboa é hoje uma cidade ‘amigável’ para os graffiti?

Sim, apesar de, pelo meio do caminho, ter surgido uma nova lei anti-graffiti. Foi algo que não se percebeu bem, pois em Lisboa estavam a ser feitos uma série de trabalhos por diferentes artistas quando de repente sai essa lei.

A lei que refere, de Agosto de 2013, é a Lei n.º 61/2013, também conhecida como Lei Anti-Graffiti. No artigo 2.º tem uma alínea que lhe diz especificamente respeito.

Sim. Especificaram quais os tipos de intervenções consideradas ilegais e puseram um campo em que escreveram ‘picar paredes’. Finalmente arranjaram um nome para a minha técnica: ‘picotagem’. Foi uma lei contracorrente daquilo que tem vindo a ser feito, nomeadamente pela Câmara Municipal de Lisboa. Mas também por outras câmaras, como a da Covilhã. Nos últimos dez anos há uma série de pessoas que tem lutado para que haja diálogo em relação à arte no espaço público. E tem havido cada vez mais abertura.

Há pouco falou do Morro da Providência, favela do Rio de Janeiro. Que projecto desenvolveu nesta comunidade?

Teve a ver com os processos de requalificação e intervenção e como estes afectam as comunidades. A situação é complexa, mas é semelhante em todos os países emergentes em que há pobreza extrema: a maneira como se lida com essa pobreza está a ser importada de modelos dos EUA e da Europa, como os bidonvilles, em França, e está a ser aplicada sem critério. São modelos um pouco hipócritas. Na Previdência estão a acontecer uma série de processos de remoção, mas por causa do Mundial e dos Jogos Olímpicos o processo está a ser ainda mais perverso. Falam em habitação social e em ajudar as pessoas, mas ninguém chega ali e diz: ‘Vou-te tirar desta casa, pôr-te noutra, reconstruir a tua com condições sanitárias e depois voltas’. Não se pensa na pessoa, mas no lucro. A única alternativa que estas pessoas têm é serem empurradas para os subúrbios, porque estas zonas são prime locations para condomínios, uma vez que estão no centro da cidade e têm uma vista de luxo. Só que estamos a falar de pessoas que estão aqui há duas ou três gerações e que sempre se apoiaram nos momentos mais difíceis, quando havia muita criminalidade. Aguentaram, e agora que está melhor, há este processo de expropriação hipócrita.

Mas como chegou até esta comunidade?

Fomos convidados para o projecto sem sabermos muito bem o que íamos fazer. Assim que chegámos percebemos o que se estava a passar: a comunidade estava a ser desmembrada. A nossa ideia foi saber quem eram as pessoas que estavam a viver nessas casas que já tinham sido demolidas, ir ter com elas, entrevistá-las, tirar fotos e cravar o rosto da pessoa que ali viveu a vida toda no que restava da empena da casa. O eco que teve na imprensa deu-lhe mais sentido.

Estas histórias entram na sua vida ou consegue ir-se embora e esquecer?

São situações que tocam, que incomodam. E é um trabalho que continua, não é só estar lá um mês e desligar-me. Fazemos workshops com miúdos locais. E agora vamos voltar para fazer o lançamento do livro, que será distribuído pela comunidade. A ideia do livro foi fazer um levantamento de outras situações que estavam a acontecer no Rio de Janeiro, mas também noutros sítios. Conta-se a história de como diferentes comunidades, em diferentes sítios do mundo, lidaram com a mesma situação. Fizemos o projecto em Xangai, em Sidney… A ideia é criar uma reflexão sobre o processo de desenvolvimento que é tão rápido que destrói quase tudo, e como é que este processo pode ser mais democrático do que ter um grupo de arquitectos num gabinete a decidir o futuro de uma comunidade sem sequer haver diálogo.

A ajuda é só divulgação ou consegue angariar fundos?

Houve um projecto em que foi doado algum dinheiro para apoio legal. Normalmente arranjamos um budget para o projecto. Se houver uma margem, doamos. Mas isso é algo que nem gosto de publicitar. A ideia é sermos um agente que ajuda, divulgando. Não através de caridade.

Esteve num projecto semelhante em Xangai. Encontrou mais dificuldades na China?

A situação da expropriação é muito sensível na China. Mas trabalhámos com uma série de pessoas de lá, o que ajudou.

Ainda faz graffiti?

Continuo a fazer, mas não é uma coisa de que me interesse falar [risos]. É algo que sempre fiz e que faz parte de mim.

Nunca receia que esse lado retire legitimidade ao outro, ao artista que tem uma exposição no Museu da Electricidade?

Acho que só lhe dá mais. É honesto. E quase tudo o que era proibido já prescreveu… [risos]

Como surgiu o nome Vhils?

São as letras que conseguia fazer mais rápido… Não tem nenhuma razão nem significado. Mas depois as pessoas começaram a chamar-me Vhils e ficou. Antes ainda tive outro tag [assinatura]: Hion.

O tag é sempre o ponto de partida do writer [aquele que faz graffiti]? Para quem vê de fora são rabiscos imperceptíveis.

Sim, é algo que nos identifica. O graffito é um jogo urbano. É um grupo de pessoas que fazem uma série de intervenções na cidade com o seu nome. A ideia é afirmarmo-nos na cidade e não sermos só mais um. É a comunicação entre um grupo de pessoas que entendem os códigos, que conseguem ler as letras, sabem as crews [grupos]… É um circuito fechado de pessoas que entendem essa comunicação.

Talvez por isso o graffito é tantas vezes associado aos gangues…

Também podemos chamar gangue à arte contemporânea, que são pessoas que entendem os códigos e os artistas, e a maioria das outras pessoas está fora. São dois mundos que se assemelham muito, mas um tem mais dinheiro que o outro. Prefiro estar no meio.

Nasceu e cresceu no Seixal. A margem Sul influenciou-o?

Sim. Sempre foi muito activa nos graffiti, nos anos 90 era quase um microcosmos, não havia uma ligação tão grande entre a margem Sul e Lisboa.

A margem Sul era muito rica ao nível dos murais políticos. Tem a recordação de ver essas pinturas?

Sim, lembro-me de ver imensos murais em Coina e noutros sítios na margem Sul. E, aliado a isso, tinha o meu pai que era da UDP.

A linguagem política esteve sempre presente em casa?

Sim. Mais tarde o meu pai distanciou-se, era contabilista, tinha contas para pagar. Mas na fase quente foi activo. Veio daí alguma da minha cultura participativa, como os jornais de parede. Isso foi-me injectado desde cedo.

Sente que também tem um olhar politizado na forma como encara a arte?

Sempre fui bastante activo ao nível do associativismo. Tínhamos uma associação que criava espaços para os putos não estarem na rua, com acesso a computadores e a bibliotecas. Trabalhei muito com o Chullage [músico] num trabalho de intervenção social. Dava workshops de design gráfico, graffiti, street art e serigrafia.

Desenha desde criança?

Sim. A minha mãe, que era professora de contabilidade, foi chamada à escola umas vezes por causa dos meus desenhos. Estava sempre a desenhar nos cadernos, já desenhava graffiti.

Lembra-se da primeira vez que pintou fora do caderno, na rua?

Acho que foi para aí um tag, mas não me lembro bem. Mas sei que comecei com uns dez anos. Depois começou a ser mais sério e tive alguns problemas, fazia muito graffiti ilegal.

Aos dez anos era um miúdo…

Sim, mas era a rebeldia. Queria sair à noite para ir fazer coisas. Muitas vezes ia pintar comboios sozinho, isto aos 14 ou 15 anos.

E os seus pais?

Preocupados. Saía de casa, às vezes ia para o Porto sozinho. Olho para trás e sei que não fui das pessoas mais fáceis… Mas hoje em dia apoiam-me bastante. O meu pai tem bastantes peças minhas.

Foi muitas vezes preso?

Que me lembre duas vezes. Uma vez estava a pintar uma parede meio abandonada, chegou a polícia e pediu para me identificar.

E ficou preso?

Não. Só nos pedem a identificação. Só se houver uma queixa é que podemos ficar presos.

Os seus pais souberam?

De uma delas. Na outra já era maior de idade. Os meus pais ficaram chocados, mas desde cedo perceberam que o trabalho tinha consistência e que era algo que eu queria muito.

Aconteceu ir na rua com os seus pais e passar por obras suas sem que os seus pais soubessem?

Sim, várias vezes. Até porque os meus pais não sabiam como é que eu assinava. [risos]

Como se aprende a fazer graffiti?

É uma aprendizagem por si próprio e com o grupo de amigos. Vamos vendo e vamos fazendo.

É um mundo onde se fazem muitas amizades? As suas amizades ainda hoje são deste meio?

Sim. Acho que é como todas as tribos urbanas. Ainda agora surgem imensas relações porque estamos todos ligados aos graffiti, a movimentos ostracizados. Claro que, como em tudo, também há rivalidades. Mas não há aquela coisa do gangue, como algumas pessoas pensam.

Faz uma actividade ilegal, portanto é um criminoso e droga-se. Sentiu este preconceito?

Claro que sim. Mas acho que é uma perspectiva que está a mudar. Só que leva tempo. Essa ideia vem muito do que eram os graffiti nos EUA, nos anos 70 e 80.

Quando descobriu a sua actual linguagem artística?

Quando fiz 16 ou 17 anos comecei a pensar nas razões daquilo que estava a fazer. Comecei a olhar para o espaço público, para os muros e paredes, de uma maneira diferente. Comecei a pensar nas primeiras memórias que tinha de coisas nas paredes. Eram ligadas à linguagem pós-25 de Abril. A verdade é que a street art em Portugal tem uma história muito anterior ao que se pensa: a participação no espaço público esteve muito ligada à cultura desde o pós-25 de Abril. Depois, no meio dos anos 80 e com a entrada na CEE, tivemos o grande boom da publicidade e passámos a ter os murais cheios de publicidade a produtos de consumo de satisfação rápida. Lembro-me que, em Alcântara, de um lado ainda havia murais políticos, do outro era só publicidade, num confronto directo de dois ideais. Depois, nos anos 90, os graffiti começaram a tomar o espaço público. Mas vinham as câmaras e limpavam, e vinham mais graffiti e mais publicidade… Comecei a pensar nos muros da cidade como uma acumulação de camadas, como se reflectissem todas as mudanças da sociedade portuguesa. O acto de pintar seria adicionar mais uma camada – quase como se a cidade ficasse mais gorda 3 ou 4 cm – e, ao mesmo tempo, essas camadas eram cada vez mais descartáveis. A minha ideia foi não ser mais uma camada, mas antes explorar essas camadas, reflectindo assim sobre a nossa história. Em 2003 ou 2004 começaram os rostos compostos por camadas, primeiro em posters e depois nas paredes.

O acto de criar é sempre antecedido do acto de destruir?

Um artista que pinta uma tela em branco, de certa forma está a destruí-la. Todo o processo de criação leva a um processo de transformação de algo que já existe. Vejo sempre o acto de criação interligado com a destruição. Até ao nível dos materiais que uso muitas vezes, como portas antigas que vêm de demolições e cartazes antigos.

Como começou a trabalhar com explosivos?

Tive a ideia, depois foi arranjar pirotécnicos com paciência para me aturar… Mas o processo é mais ou menos básico: é escavar a parede, aplicar os explosivos e tapar com estuque. Quando rebenta desintegra o estuque. O trabalho é sobretudo o vídeo da explosão.

Nunca se enganou e rebentou a parede toda?

Não. São cargas pequenas. Mas já fizemos fachadas de cinco andares.

Chegou a candidatar-se a uma universidade portuguesa?

Sim, a Belas Artes. Mas não tinha média. Tinha 20 a Oficina de Artes, mas a média final era para aí 13. Mas eu sabia que queria estudar. E se era para pagar mais valia ir para fora. Ainda tentei Berlim, mas não falava alemão. Depois tentei a Central Saint Martins College of Art and Design, em Londres. Mandei o meu portfolio e convidaram-me para a entrevista. Aceitaram-me apesar do meu inglês limitado. Estive lá dois anos, 2007 e 2008, fiz o bacharelato em Art Skills and Practices.

Como foi a sua vida em Londres?

Nunca lá tinha ido. Mas fui para a entrevista já pronto para ficar. Fiquei em East London, uma zona meio dodge [a evitar]. Mas tinha alguns contactos de pessoal dos graffiti de lá e isso ajudou à integração. Quando acabei o curso, fiquei e só voltei mesmo no início deste ano. Ainda tenho estúdio em Londres. Nos últimos dois anos estava a viajar muito e entre estar lá ou aqui, prefiro estar aqui.

Porquê?

Porque via que estava toda a gente a abandonar o barco, porque foram forçadas a fazê-lo. E preocupa-me ver perder uma geração, que supostamente é a mais preparada. Estamos a perder a geração que podia fazer a diferença.

Logo a seguir a terminar o curso, em 2008, teve uma peça sua ao lado de uma obra de Banksy, no Cans Festival. Foi um momento decisivo no seu percurso?

Sim, porque essa obra foi capa do Times e deu-se uma abertura internacional. Além disso passei a trabalhar com a Galeria Lazarides em Londres [a mesma que representa Banksy] e como as galerias estão muito interligadas comecei a receber convites para outras galerias e museus em Paris, Xangai, San Diego, Cincinnati, Bogotá… Mas em Portugal eu já trabalhava bastante, já fazia exposições, cheguei a fazer vídeos para o Lux e também fazia muita ilustração, que é algo que hoje raramente faço. Aliás, foi assim que paguei os meus estudos.

Nessa altura conheceu a cara do Banksy?

Não. Quando fiz esse projecto, contactei com várias pessoas, mas nunca se sabe se é ele. Prefiro que fique assim. Acho que tem mais força enquanto anónimo. O foco deve estar no trabalho e não na cara do artista.

Foi a partir dessa mostra que a cotação das suas obras começou a subir. Qual o valor mais alto de uma peça sua?

Em leilão, 7.500 euros, em Paris. Mas depende da peça, há intervenções que podem chegar aos 30 ou 40 mil euros. Ainda me surpreende, mas é algo que tem sido acompanhado pelo crescimento do projecto em si. Hoje somos sete pessoas aqui no ateliê, a contrato. Não é a recibos verdes. Mas sempre tentei que os preços não subissem desmesuradamente. Tentei que o preço do meu trabalho não disparasse porque senão ficaria inacessível.

No regresso a Portugal criou a galeria de arte urbana e contemporânea Underdogs. Porquê?

Para mim é importante dar condições a outros artistas, investir neles, tal como em tempos investiram em mim. Há muita gente em Portugal ligada a estas artes que nunca teve apoio ou oportunidades. As galerias tradicionais não recebem muito este tipo de artistas. É um investimento, não é algo que me dê dinheiro.

Disse que, em tempos, investiram em si.

Sim, logo aos 16 anos. Foi através da primeira Visual Street Performance, uma plataforma de arte urbana a que estive ligado. A Vera Cortês viu o meu trabalho e ficou interessada. Começámos a trabalhar juntos. A Vera sempre acreditou em mim. Foi corajoso da parte dela pegar num jovem de 16 anos, quando em Portugal se diz que um artista é jovem aos 28 ou 30 anos. Houve muita gente que não entendeu, mas estamos juntos até hoje.

Lida de forma confortável com a efemeridade de muitas das suas peças?

Lido. Até é algo importante no trabalho, a ideia de que somos todos efémeros. O facto de o trabalho ser efémero dá-lhe mais força.

Disse várias vezes que nada disto fazia parte dos seus planos…

Nunca quis ser artista plástico. Mas aconteceu, e há que lidar com isso. Não me posso queixar.

Tem dificuldade em nomear-se artista?

Não gosto de dar nomes às coisas… Até porque muitas delas têm conotações com as quais não me identifico muito.

O que escreve quando preenche o IRS?

Artista plástico.

E ainda sobram resquícios do miúdo que só queria ser astronauta?

Sei lá… Acho que ainda sou um bocadinho idiota, no sentido em que gosto de inventar, experimentar e estou sempre cheio de ideias. Essa parte mantém-se. E posso sempre desenhar um astronauta com a minha cara.

raquel.carrilho@sol.pt