A futura ligação da TAP para a capital, Bogotá, poderá abrir outra vaga de negócios e diversificar as áreas de aposta. “Será uma nova fase de maturidade na relação entre os dois países, consolidando o processo de aproximação”, antecipa María Claudia Lacouture, presidente da Proexport, entidade colombiana para a promoção do turismo, exportações e captação de investimento estrangeiro.
O organismo colombiano abriu um escritório em Lisboa em 2012 e desde então mais de 200 empresários portugueses de topo, interessados em investir, visitaram a Colômbia. Muitos aproveitaram a boleia das várias visitas oficiais do presidente da República e do Governo. “Nos últimos três anos registou-se um aumento nas relações entre ambos os países. Cerca de 50 empresas terão aberto escritórios ou representação em Bogotá”, contabiliza, salientando que em Lisboa recebe “pedidos de informação num ritmo diário, ou seja, não é um interesse momentâneo mas continuado”.
Porta para a América
Mas quais são os argumentos deste país? Média de crescimento económico anual de 4% na última década, avanços nos acordos de paz com as FARC e combate ao narcotráfico, estabilidade política, mercado aberto e fácil repatriação de dividendos, posição como plataforma para o Atlântico e Pacífico e porta para a América hispânica.
O país é muitas vezes apontado como um Eldorado. A AICEP avisa que essa “falsa expectativa” pode trazer desilusões se os empresários não conhecerem a realidade local (ver caixa), mas numa Europa deprimida e com a crise em Portugal, o país entrou no radar dos empresários nacionais à procura de novas geografias. Não só dos grandes grupos, mas também de muitas pequenas e médias empresas que os seguiram na incursão pelo mercado colombiano.
É a terceira potência da América do Sul, depois do Brasil e da Argentina, foi considerada pelo Banco Mundial como 30.ª economia do mundo e é uma das seis nações mais atractivas para revista The Economist.
Dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), que também abriu uma delegação em Bogotá há dois anos, mostram que, entre 2009 e 2012, os agentes exportadores portugueses para a Colômbia mais do que duplicaram, de 104 para 221.
No ano passado, as exportações de bens – sobretudo máquinas e aparelhos, metais, minerais e minérios – ascenderam a 41 milhões de euros, 46% acima de 2012.
E há também várias empresas de serviços com mais negócios no país. Uma delas é a TAP: “A América Latina é das regiões do globo com maior crescimento de tráfego aéreo. Analisando as diversas hipóteses ganhou relevo a Colômbia, que, além de ter enormes potencialidades turísticas, tem uma economia pujante que está a atrair muitos investidores portugueses. O crescimento da sua classe média contribui para um enorme desenvolvimento das viagens para o estrangeiro”, explica fonte oficial da companhia aérea, que inaugura a rota para Bogotá (e Panamá) a 1 de Julho. Captando turismo de lazer e negócios, existem já 11 mil reservas para a futura ligação, que terá quatro frequências semanais.
O interesse é nos dois sentidos: há também mais colombianos a quererem fazer negócio em Portugal ou com os portugueses. No turismo, a Colômbia quer tornar-se o sexto destino turístico para os portugueses até 2016, desviando adeptos do sol e mar que passam férias no México, na República Dominicana ou em Cuba. Para já, é o nono. Mas em 2013 já recebeu perto de 6.700 turistas oriundos de Portugal, uma subida de 35%.
Vistos gold para colombianos
Por cá, o Governo vai agilizar a atribuição de vistos em vários países, entre os quais a Colômbia. “Esse impacto a nível turístico também vai reflectir-se num aumento de pedidos do visto gold. Até agora tivemos 20 pedidos e quatro foram concedidos. Outros dois ou três estão a ser finalizados”, indica a directora executiva da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Colombiana, Rosário Marques.
Os negócios entre os dois países estão em crescendo. “A actividade comercial até agora registada é de aproximadamente 400 milhões de dólares [cerca de 290 milhões de euros], devendo-se principalmente às importações portuguesas de carvão”, realça a presidente da Proexport, María Claudia Lacouture.
A Câmara de Comércio e Indústria Luso-Colombiana organiza em Maio a primeira missão de empresários colombianos a Portugal, que terão contacto com vários sectores económicos. “Esgotadas as privatizações, em que houve manifesto interesse colombiano [TAP e ANA], é de admitir investimento no sector extractivo, floricultura, agro-indústrias, pequena indústria transformadora, marcas, turismo e hotelaria”, considera a AICEP, num documento sobre a Colômbia.
Servir de porta de acesso à Europa e África também joga a favor de Portugal. Já para os empresários portugueses, todas as áreas têm potencial, acredita Rosário Marques, que também tem organizado missões a várias cidades colombianas. Em Fevereiro houve duas, em Junho haverá outra.
“Quando um país tem estas taxas de crescimento, tudo é preciso, desde quadros técnicos a empresas com experiência. Não existe um único restaurante português na Colômbia. E quase não se encontram vinhos nacionais”, exemplifica.
Apostas diversificadas
O consumo alimentar tem sido uma aposta da Jerónimo Martins, que abriu os supermercados Ara em Março de 2013. Tem já 37 lojas e planeia mais 50 para este ano. Além do retalho, há oportunidades no sector dos vinhos ou do azeite, exportações que terão a ganhar com o tratado de livre comércio com a União Europeia e com o acordo para eliminar a dupla tributação, que deverá entrar brevemente em vigor.
Num país com 48,9 milhões de habitantes, o têxtil e calçado também querem captar novos públicos, sobretudo nas classes altas. A associação empresarial do calçado, a APICCAPS, está a preparar ‘ofensivas’ ao mercado colombiano. Quer promover-se no país com presenças em revistas e participar, em Julho, na feira de moda de Bogotá. Outras áreas aliciantes: a energia e as tecnologias da informação.
Com grandes planos para infra-estruturas por parte do Governo, as actividades ligadas à construção, logística, navegação e transportes também são promissoras, num país que não tem rede ferroviária e onde as distâncias se medem em horas e não em quilómetros, devido às redes viárias e de transportes ainda deficitárias. A aproveitar estão já empresas como a Mota-Engil e a Prebuild, que prevê facturar 600 milhões de dólares nos próximos dois anos. Há também dinamismo nas novas tecnologias. A TIMWE já está no país, tal como a Vortal, que desenvolveu o portal de compras públicas do Governo colombiano.