O Ministério das Finanças, através do secretário de Estado da Administração Pública, convocou alguns dos mais destacados meios de comunicação para, em ‘off the record’ acordado, dar conta dos projectos de se tornarem permanentes os cortes de pensões e de salários da Função Pública, que o Tribunal Constitucional só aceitara como provisórios.
O pior foi o porta-voz do Governo, Marques Guedes, no final do Conselho de Ministros e 5ª-feira passada, ter insultado os jornais por notícias que tinham saído formalmente do Governo, e do Ministério das Finanças. De resto, o facto de não se anunciar a demissão do secretário de Estado mostra que, com ou sem oposições internas (mesmo com a contrariedade de Passos Coelho, quando chegou de Moçambique, ou as censuras de Portas, na Assembleia), ele não andou fora das politicas oficiais. Quis fazer o que é hábito deste Governo: lançar uma informação para os jornais, medir as reacções, e só depois concretizar a medida. Marques Guedes, aterrado com as eleições, preferiu arriscar o alarido, que saiu em boomrang (com volta). Talvez mau hábito, por estes tempos em que tanto jornalismo anda de namoro com os partidos.
O problema é que estamos em época pré-eleitoral, e o ‘que se lixem as eleições’ do primeiro-ministro deixou de estar em vigor (só esteve quando as eleições eram longínquas). Parece que agora a ideia é não anunciar mais cortes antes das europeias, e preferentemente até antes das legislativas. E apresentar como limpa a saída do resgate, por mais suja e condicionada que ela de facto seja. Pelo seu lado, Paulo Portas e o CDS terão de se conformar com o que se diz numa anedota que por aí corre: dizerem aos pensionistas que conseguem assegurar-lhes ‘meia pensão’.