O regresso ao modelo de crescimento assente no mercado interno foi a principal novidade da actualização das projecções do Banco de Portugal (BdP) divulgadas quarta-feira. Três meses após ter estimado um crescimento da economia para 2014 de 0,8%, o banco central reviu em alta esta meta e espera agora um aumento do PIB de 1,2%, alinhando as suas previsões com a troika e o Governo.
Porém, o consumo privado é o grande destaque. De uma ligeira subida de 0,3% em 2014 prevista em Dezembro, o BdP acredita que os gastos das famílias irão aumentar 1,3%, quatro vezes mais. Apesar de referir que o rendimento real das famílias vai ter apenas um “crescimento marginal” e que a taxa de poupança se irá manter em níveis elevados, o BdP espera um “crescimento forte” da aquisição de bens duradouros em 2014 e uma subida de 2% até 2016. Os bens duradouros englobam produtos como automóveis, electrodomésticos, telemóveis ou mobiliário.
Já os bens não duradouros, como a alimentação, deverão ter um comportamento mais modesto e seguir a evolução do rendimento disponível: um aumento apenas marginal. O consumo privado representa 65% do PIB e é, de longe, a maior componente da economia.
As exportações, a segunda maior componente do PIB com um peso superior a 40% do produto, vão crescer até 2016 na casa dos 5% por ano. Porém, este efeito positivo será anulado com a subida das importações, que irão expandir-se à mesma taxa devido à procura de bens duradouros, a maioria importados. Durante a intervenção externa, as exportações cresceram a um ritmo duas vezes superior ao das importações.
Ainda assim, apesar de as famílias estarem a consumir mais e as empresas a aumentar o investimento, este movimento não é suficiente para colocar a economia a convergir com a Zona Euro. Até 2016, o crescimento vai continuar abaixo da média europeia, segundo os dados mais recentes do Banco Central Europeu. A região da moeda única vai crescer 1,5% em 2015 e 1,8% em 2016. Mas não é só o ritmo que é distinto, o perfil também. Enquanto em Portugal o consumo será o grande pilar de crescimento – que o BdP considera ser sustentável –, no resto da Europa será o investimento o grande motor da economia.