Finalmente
Muitas expectativas foram criadas em torno do prematuro regresso de José Sócrates à cena política. Apesar de menos de 20 anos, para mim, ser cedo, aplaudi na altura o dito regresso na forma de comentário semanal na RTP 1 para me desinteressar logo ao primeiro episódio. O espaço não era de comentário e Sócrates falava sozinho de um passado fantasioso e só seu. A acrescentar a esta monotonia temática, o tom era de chá e scones, com uma jornalista com qualidade a recuar perante o mínimo arregalar de olhos do animal feroz. Estivemos (eu não) um ano nesta conversa tépida até ao domingo passado, quando José Rodrigues dos Santos interrompeu o monólogo de Sócrates e o tornou um confronto útil. Houve logo quem dissesse que era uma vergonha o que estavam a fazer a Sócrates, pobre vítima, quando o novo programa beneficia quem gosta da contenda, como é o caso de Sócrates. Gosto de televisão, por isso fico satisfeita por finalmente haver programa.
Pormenor metodológico
Katy Waldman relata na Slate que um estudo na revista Consciousness and Cognition indicou que as pessoas escolhem o peito como representação da sua ‘identidade’. Em inglês é mais curto: ‘self’. O gesto de apontar para o peito é o mais comum para indicar o ‘eu’. Embora pareça óbvio, é interessante perguntar por que não apontamos para a cabeça, o coração ou mesmo para a barriga. A conclusão poética dada pelos cientistas é a de que o peito somos nós e o resto são meros apêndices do nosso torso. É verdade que o gesto nos é familiar e podemos concluir que o aprendemos inconscientemente dos nossos pais, eles dos pais deles até ao homo sapiens e antes dele. Mas sobre a metodologia, Waldman conta que foi usado um laser que percorria o corpo de baixo para cima. Quando chegava ao peito, as cobaias indicavam que ali é que era. Waldman comenta que é possível que as pessoas não quisessem que fosse mais além. Ninguém quer ter um laser apontado aos olhos.
Banido na Turquia
A poucos dias das eleições na Turquia, a 30 de Março, o Governo bloqueou a rede social Twitter para obrigar a fechar as contas dedicadas a insultar 52 pessoas próximas – política ou familiarmente – do Governo turco por terem sido detidas e acusadas de crimes de corrupção. Depois de bloquear o Twitter, por causa dos insultos e por haver contas em várias redes sociais criadas para veicular informação confidencial sobre o caso e assim causar o pânico, o primeiro-ministro turco Erdogan ameaçou bloquear o Facebook e o YouTube, mas depressa percebeu que não valia a pena. O efeito da proibição foi ainda pior para Erdogan. Os meios para furar o bloqueio foram de imediato postos em prática e imagens com passarinhos azuis do Twitter a defecar na cabeça do primeiro-ministro turco foram retweetadas milhares de vezes. Há guerras sem feridos nem mortos que também são duras. Perde quem pensa que tem o poder de as iniciar ou de acabar com elas.
O segredo é a alma do negócio
Os Yakuza são uma organização criminosa japonesa exibida várias vezes em filmes. Tiveram a sua época de ouro depois da Segunda Guerra Mundial. Os Yakuza foram uma ajuda preciosa para manter o funcionamento social e laboral, à semelhança do que fazia a Cosa Nostra siciliana na mesma altura. Esta associação era mais ou menos legal até 2011, altura em que as leis contra o crime organizado se tornaram mais duras. Os Yakuza começaram a ser marginalizados social e financeiramente. Os clubes de golfe não aceitavam os seus membros e os bancos podiam congelar as suas contas por mera indicação da polícia. Ter um namorado ou um amigo Yakuza já não era tão bem visto. O número de membros diminuiu drasticamente de 180 mil para ‘apenas’ 60 mil. O Daily Beast pergunta para onde terão ido. Acho que não foram para lado nenhum. Devem ter aprendido com os mafiosos de outros países que, para ser um gangster bem sucedido, não há nada melhor do que passar despercebido.