Sócrates e os comentadores

Já deverei ter dito o quanto me espanta as TVs (e é mal de todas) contratarem os políticos sem sucesso na vida politica, e em fim de carreira, como comentadores. O comentário devia ser entregue a jornalistas distanciados, como se faz no resto do mundo. Mas, enfim, engulamos mais essa nossa originalidade, mais os maçadoríssimos…

Houve agora um problema com Sócrates, por causa de ter mudado o entrevistador (se assim se pode designar), e este último, José Rodrigues dos Santos, optar pelo estilo jornalístico que lhe compete – mas é avesso ao que se passa com outros comentadores políticos, mesmo na sua estação. Sócrates não se importa, arma-se em democrata, e quer terminar o seu contrato.

Já se viu que o contrato de Sócrates foi uma esperteza saloia da RTP, do tempo de Relvas, a esperar afundar o PS nas críticas do ex-primeiro ministro à actual direcção de Seguro. Mas Sócrates, valha a verdade (apesar da minha nula simpatia por uma pessoa que revelou faltas de carácter que deveriam ser incompatíveis com o exercício de cargos políticos), frustrou essas expectativas, aproveitando o espaço mais para se justificar das suas acções e atacar os sucessores no Governo. O problema parece ser só este. Se não, apesar de Rodrigues dos Santos ser aqui o menos culpado e o que mais razão tem, seriam varridos com os mesmos critérios jornalísticos, passando de comentadores a entrevistados, os restantes comentadores políticos. E já teriam muita sorte no seu estatuto de entrevistados privilegiados.