A empresária cavaleira

Formada em Relações Internacionais, sempre esteve ligada à área do têxtil até que em 2012 ficou desempregada. Mas em vez de se fechar em casa e ceder à depressão de quem se vê privado de sustento, Liliana não baixou os braços. Rumou ao Centro de Emprego e inscreveu-se em vários cursos ligados ao têxtil. “Aí…

Mais ou menos nessa altura, a filha começou a pedir-lhe para ter aulas de equitação. E a mãe lá lhe fez o gosto e inscreveu-a no hipismo. O pior foi quando andou de loja em loja à procura de roupa para a modalidade. Não encontrou nada que achasse adequado para a filha de seis anos e achou por bem resolver o assunto com as suas próprias mãos. “Foi então que tive a ideia de criar umas calças que tivessem a tecnologia de protecção necessária e o conforto para dar liberdade de movimentos. Foi aí que começou a nascer e a ganhar corpo a Bellator”. E porque Bellator? “Pensei nessa palavra porque estava a criar uma colecção muito inspirada no cavalo lusitano, uma raça com cinco mil anos e muito guerreira, utilizada já no tempo dos Romanos. Era um cavalo de guerra e pensei em guerreiro e como estudei latim, traduzi a palavra”.

E porque Liliana também tem qualquer coisa de guerreira pôs-se a estudar tudo e mais alguma coisa sobre cavalos – incluindo montá-los, coisa que nunca tinha feito. A colecção de equitação que criou privilegia o conforto, a resistência mas, sobretudo, a empatia entre cavalo e cavaleiro. “Estudei o cavalo lusitano, todas as características da raça e uma das inovações que tem sido muito bem aceite pelo mercado tem a ver com o facto de os tecidos incorporarem a essência de Ylang Ylang, através da tecnologia de micro encapsulamento nos materiais”. Liliana explica que os cavalos têm um olfacto ainda mais apurado do que os cães, porque têm um órgão, chamado vulnero nasal, que funciona como olfacto/gosto e, aparentemente, ao detectar esta essência, há uma simbiose maior com o cavaleiro e torna-se mais fácil a prática da equitação. “Isto tem sido muito inspirador, principalmente para os jovens que estão a iniciar-se na equitação e podem ter algum receio. O aroma acaba por criar alguma autoconfiança e promover a auto-estima”, garante. Mas esta não é a única inovação. As peças têm elasticidade bidireccional para haver total liberdade de movimentos, com zonas reforçadas para terem aderência à sela, e não têm costuras interiores, para aumentar o conforto. Mas a Bellator não é só tecnologia: “O vestuário do cavaleiro também é muito estereotipado e o que tentei criar foi um design mais inovador, também para conciliar moda e tecnologia, de forma a que o cavaleiro pudesse usar estas peças dentro e fora do picadeiro”. Por isso a colecção tem roupa para homem, mulher e criança, o que inclui blazers, botas, luvas, camisas de competição e pólos, entre outros. E tal como nos carros de corridas, as peças podem ser personalizadas conforme os objectivos dos seus utilizadores: “Se é um cavaleiro que pratica saltos, pode adaptar a peça com a inovação que é mais adequada para ele; se é um cavaleiro que pratica horseball, pode pedir um upgrade diferente de acordo com essa modalidade…”, explica Liliana. Em termos de preços, umas calças, por exemplo, podem facilmente subir de 50 para 200 euros, dependendo da tecnologia incorporada.

Para o futuro, os olhos da empresária já estão nos jogos equestres mundiais, em finais de Agosto, na Normandia, e nos mercados do Dubai e do Brasil, que já está a explorar. Seja como for, Portugal vai continuar a ser a sua base, até porque quer também promover o turismo equestre “e a consciência social para as vantagens da hipoterapia para a reabilitação de pessoas portadoras de necessidades especiais”. E para quem se encontra desempregado, Liliana deixa um repto: “Quando estamos desempregados, se ficarmos deprimidos e fechados em casa, nada acontece. Mas se procurarmos e não desistirmos, acabam por surgir oportunidades. Foi o que aconteceu comigo. Não desistam!”.

patricia.cintra@sol.pt