Lembro-me de ter utilizado a expressão ‘as casas morrem de pé’, em regra muito utilizada para definir a longevidade das árvores, e de sublinhar que o património imobiliário é capaz de se mostrar vivo mesmo estando a sofrer uma agonia quase invisível, com força suficiente para destruir por dentro cidades inteiras.
Os erros urbanísticos e das políticas habitacionais que marcaram o nosso século XX transformaram largas zonas dos centros históricos em quase favelas, quando não em verdadeiros escombros que nem os graffiti mais impressionantes conseguem esconder. Por estranho que pareça, este destino triste das nossas principais cidades é também uma potencial fonte de negócios e uma oportunidade que seduz muito investidor estrangeiro.
Na Europa, Portugal é um dos poucos países onde nas duas principais cidades ainda existe um enorme potencial em matéria de negócios para a Reabilitação Urbana. Fruto do tal século XX rico em descuidos urbanísticos e em desprezar o património construído.
Neste ano de eleições para o Parlamento Europeu, primeiro de sete anos do quadro de referência estratégica nacional (QREN), a questão da reabilitação das cidades portuguesas, com o apoio da própria Europa, ganha particular importância e não pode ser descurada. Desde logo pelo facto de esta realidade portuguesa estar a fazer soar campainhas nos investidores estrangeiros, que olham para o nosso imobiliário como um mercado onde vale a pena investir, como aliás testemunhei em recente viagem pelo Oriente.
Os destinos das nossas cidades passam pelas novas políticas de habitação, pela possibilidade da dinamização de um mercado de arrendamento acessível, mas também por incentivos à reabilitação que aproveitem os anunciados apoios comunitários, que privilegiam a eficiência energética ou a resistência sísmica dos edifícios.
É preciso aproveitar este momento histórico e esta realidade económica para fazer renascer vida nas nossas cidades e para comprovar que a Reabilitação Urbana, que tanto apregoamos, é uma das vias mais importantes para a nossa recuperação económica e para a recuperação do tempo que perdemos quando deixamos degradar muito do nosso melhor e mais rico património construído.
Este tema merece ser debatido muito seriamente e justifica que possamos, por exemplo, chamar a esse debate urgente e necessário todos quantos, interna ou externamente, possam contribuir para um efectivo renascimento das nossas cidades. Neste ano em que, por todo o lado, os 40 anos da Democracia em Portugal estão a ser celebrados, a Reabilitação Urbana pode bem ser o mote das celebrações por parte do sector imobiliário.
*Presidente da APEMIP, assina esta coluna semanalmente