É assim todos os dias, à excepção de sexta-feira, desde o início de Dezembro de 2013. Na altura, a Câmara Municipal da Amadora encetou uma parceria com o Instituto do Judo para um projecto-piloto que visa dar a todos os alunos de duas escolas daquele concelho a possibilidade de terem aulas de judo. Ao abrigo deste protocolo, denominado Projecto Futuro, cada família paga de acordo com os rendimentos que aufere, sendo que muitas delas não despendem um único cêntimo pela prática desta arte milenar.
“Há um esforço tripartido, ou seja, o Instituto do Judo dinamiza o projecto, a Câmara Municipal da Amadora concede um apoio financeiro por aluno e as famílias suportam uma parte desse custo, consoante os escalões dos seus rendimentos”, explica Cristina Farinha, vereadora com os pelouros do Desporto, Juventude, Educação, Formação e Desenvolvimento Social, da Câmara Municipal da Amadora. As famílias têm assim uma oportunidade de dar resposta às necessidades dos seus educandos com um custo muito baixo. “De outra forma, não poderiam suportá-lo”, afirma a vereadora. “Além disso, há o conforto do aluno estar no espaço que já conhece, na sua escola”.
O Projecto Futuro, que abrange todos os alunos das escolas EB1 das Águas Livres e EB2,3 Professor Pedro d’Orey da Cunha, ambas na Damaia, concelho da Amadora, é, no entanto, muito mais do que uma iniciativa desportiva. “A ideia é conseguir, a partir do desporto, combater o insucesso escolar e tirar ganhos para a educação destas crianças”, explica Cristina Farinha. “Por tudo o que o judo permite dar a quem o pratica, pelos valores que defende, pelos seus ritmos e regras, temos a esperança de que possa também ter efeitos naquilo que é a postura das crianças em sala de aula”.
O projecto envolve pais, professores e alunos, constituindo uma iniciativa conjunta que abarca toda a comunidade escolar. E, a avaliar pelas mais de 82 crianças que já frequentam as aulas de judo na Amadora, a ideia parece já ter vingado.
Encaixados os tatami (tapetes para a prática do judo), a aula pode começar. Sergiu Oleinic, o professor, mete ordem na turma e manda todos alinharem. “Vamos começar!”, alerta. Em poucos segundos, um silêncio militar reina no tapete. O sucesso do piloto do Projecto Futuro pode levar esta iniciativa “a toda a comunidade escolar do concelho, transformando-a num projecto da cidade”, revela Cristina Farinha. No entanto, “é preciso dar tempo para que o piloto dê resultados”.
Esses resultados, difíceis de medir, podem passar por “testemunhos dos próprios professores que lidam com as crianças em sala e analisam os seus comportamentos, como a capacidade de estar com atenção, a rebeldia, a capacidade para seguir regras”, entre outros, explica a responsável.
Um projecto para alargar a outros concelhos do país
Nascido no início de 2013, de uma iniciativa de um grupo de judocas e professores de judo, incluindo os consagrados João Pina e Joana Ramos, o Instituto do Judo visa “proporcionar a todas as crianças a prática do judo, independentemente das suas possibilidades financeiras”, explica João Pina, responsável máximo pelo projecto. “O judo é um desporto muito completo, onde utilizamos quase todos os músculos e principalmente o cérebro”. O modelo de sustentação desta iniciativa é também ele inovador: “O Instituto do Judo tem duas vertentes, uma mais social e outra mais comercial, esta baseada em colégios particulares, numa óptica de tornar o projecto auto-suficiente”. Para tal, muito contou o apoio de algumas entidades e empresas parceiras, como a agência digital Made2Web, que criou o website do Instituto do Judo gratuitamente.
Além do piloto da Damaia, o instituto está também presente na Escola Padre António Vieira, em Lisboa, ao abrigo de uma parceria com o clube Estrelas de São João de Brito. Quanto à resposta dos alunos e famílias, João Pina sustenta que os números falam por si: “Entre todas as escolas, temos já quase 200 alunos, distribuídos pela Amadora, Chelas, Escola Padre António Vieira, Colégio Alegria, no Rato, e Externato Eduarda Maria, na Parede, sendo que este número tem aumentado de semana para semana”. As crianças com problemas “não compreendem bem as regras, no início, mas, a partir da segunda ou terceira aula, tudo começa a fazer sentido e é transportado para as suas vidas”, diz João Pina. “O judo pode aportar valores às crianças problemáticas, como o respeito pelo outro, a sinceridade, a modéstia, o autocontrolo e o saber perder”.
Para o responsável, “as crianças estão contentes, a evoluir e a aprender os valores do judo e as famílias julgam tratar-se de uma mais-valia para a comunidade”. O futuro, para o antigo campeão da Europa, passa por estender o projecto a outros concelhos, como o de Sintra, onde já houve uma abordagem, e começar a levar as crianças a competições internas (entre os vários núcleos do Instituto do Judo) e externas. “Pretendemos ainda desenvolver aulas de pais e filhos, como forma de envolver a família nesta actividade, realizar uma festa de Natal com todas as escolas do Instituto e uma festa de final de ano, que incluirá a passagem de graduações [cintos]”, desvenda João Pina.