Nesta Páscoa, os portugueses voltaram a viajar para destinos estrangeiros e nacionais, pondo fim a dois anos de contenção. Os especialistas acreditam que esta mudança se deve a um aumento da confiança na economia do país, recordando que muitas famílias passaram a poupar o que costumavam gastar em lazer.
Segundo a Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo, as reservas de voos para este época dispararam. “Há subidas de 20 a 30%, e alguns operadores até registam um aumento de 40%”, adianta o presidente daquela associação, Pedro Costa Ferreira, acrescentando que muitos aproveitaram as férias escolares para passar uns dias de descanso fora do país.
Os destinos para crianças (como a Eurodisney) e de praia (como Cabo Verde, Caraíbas e Brasil) estão entre os preferidos. A procura foi tanta, aliás, que há já algum tempo que as agências de viagens não dispõem de “pacotes turísticos” para esses locais. “Esgotaram há pelo menos três semanas”, concretiza Costa Ferreira, notando que “a classe média está a voltar a viajar”.
Segundo dados da ANA – empresa que gere os aeroportos nacionais -, 10 mil pessoas vão sair este mês do país com destino a Cabo Verde. Helena, de 36 anos, é uma delas. “Marquei esta viagem há quatro meses”, recorda ao SOL, esta técnica de marketing, contando que fez um pé-de-meia para esta pausa de duas semanas, que lhe vai custar apenas 750 euros com alojamento e bilhete de avião: “Sempre que posso, aproveito o feriado do 25 de Abril para viajar. Talvez seja a minha forma de celebrar a liberdade. Desta vez apanhou a Páscoa”.
A Páscoa tardia – que aproximou as férias escolares do feriado de 25 de Abril – é, aliás, um dos motivos invocados pelos operadores turísticos para este boom nas viagens. “Foi uma coincidência feliz”, disse ao SOL a coordenadora de uma das principais agências do país, referindo que verificou também um aumento da procura para as ilhas espanholas (Baleares e Canárias), os Açores e a Madeira.
1,3 milhões rumam ao Algarve
Mais portugueses optaram também por fazer férias no país. Esta Páscoa, e pela primeira vez nos últimos seis anos, o crescimento das reservas de hotéis e outros alojamentos no Algarve deve-se à procura interna.
“Esperamos, em Abril, ter um milhão e 320 mil dormidas na região, um aumento de 4% em relação ao ano passado” – garante o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, Elidérico Viegas, explicando que este aumento de 140 mil dormidas se deve “sobretudo a famílias portuguesas, de todas as classes sociais”. Já no ano passado, a ocupação na região tinha crescido, mas à custa da procura estrangeira.
No Algarve, há vários hotéis com a capacidade esgotada ou perto dos 100%. “E não estamos a falar apenas de hotéis de menor categoria: falamos também dos de cinco estrelas”, refere Elidérico Viegas. Este ano, as famílias irão voltar a gastar na região, acredita: “Os portugueses animaram-se com os sinais ténues da economia e aproveitaram para fazer umas curtas férias antes do Verão”.
Por outro lado, o facto de as viagens baratas para o estrangeiro estarem já todas esgotadas, também favorece o mercado interno. “As marcações de mini-férias de última hora vêm, por isso, reforçar a procura do mercado interno”, disse ao SOL um responsável do sector das viagens.
Foi o que fez Alexandra Navarro, de 35 anos, que no início do mês tentou marcar uma viagem de uma semana de férias em Cabo Verde, com a filha, mas viu todos os pacotes esgotados. “Acabei por fazer umas mini-férias cá dentro”, explica a responsável de publicidade que está a passar uns dias numa unidade de turismo rural em Coruche. “Aluguei a última casa disponível. As outras sete também estão alugadas por portugueses em férias com os filhos”, conta, lembrando que a estadia irá ficar por metade do que iria pagar se tivesse viajado para Cabo Verde.
O aumento da procura por destinos de férias em família em Portugal e no estrangeiro é confirmada pela directora da Atmosphere Hotels, um site especializado em viagens e hotéis de charme, que viu as reservas através do portal dispararem 27%, em relação ao ano passado. “Em Portugal, houve um aumento da procura essencialmente nos hotéis com promoções, mas também no segmento onde o preço é mais elevado”, explica ao SOL Susana Páscoa.
A generalidade dos hotéis nacionais manteve esta época os preços de 2013, mas apostou noutro tipo de promoções. “Há hotéis que fazem oferta da estadia para as crianças ou organizam actividades relacionadas com a época, como a caça aos ovos de chocolate” – explica a responsável, acrescentando que a estratégia das unidades hoteleiras foi não baixar o preço por quarto, mas criar extras que acrescentam valor à estadia: “Umas fazem descontos directos a partir da segunda ou terceira noites e outras oferecem um jantar ou até massagens”.
Espanhóis já se adaptaram às portagens nas SCUT
Segundo Susana Páscoa, a maioria dos clientes faz estadias curtas de dois ou três dias e prefere o Algarve, mas também há cada vez mais pedidos de reservas para a Serra da Estrela ou para a região do Douro, que este ano tem apostado mais na divulgação da sua oferta.
A grande maioria dos hoteleiros está, aliás, optimista em relação a esta época do ano: sobretudo em Lisboa e no Algarve, onde mais de 70% dos inquiridos pela Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) acreditam no crescimento da procura. “É sobretudo o próximo fim-de-semana, o da Páscoa, que deverá ter maior procura nesta época”, confirma ao SOL Cristina Siza Vieira, directora executiva da Associação de Hotelaria de Portugal, acrescentando que, com base nas reservas feitas no início do mês, mais de 60% dos 508 hotéis inquiridos esperam aumentos da receita.
Para este optimismo contribuiu também a afluência de estrangeiros nesta época, sobretudo de ingleses, alemães e espanhóis. “Há muitos espanhóis que cruzam a fronteira com Portugal, ficam no país durante o dia, mas não pernoitam”, explica Cristina Siza Vieira, sublinhando que o Centro do país, que tradicionalmente é a zona mais visitada pelos espanhóis, deverá este ano recuperar dos ‘estragos’ provocados pela introdução de portagens nas antigas auto-estradas SCUT: “O mercado espanhol já se adaptou a esta realidade e, por isso, parece que vai recuperar este ano”.