Romancista, dramaturga e jornalista, foi pelos livros de Adrian Mole que Sue Townsend ganhou fama (em Portugal foram publicados pela Difel e estão agora a ser editados pela Presença). O Diário Secreto de Adrian Mole aos 13 Anos e 3/4, publicado em 1982, foi o romance que mais exemplares vendeu, no Reino Unido, na década de 80 (em 1984 Townsend publicou Adrian Mole na Crise da Adolescência e, em 89, As Confissões de Adrian Albert Mole). Townsend era exímia na sátira política. Apesar de explorar o mundo da adolescência, apelando a leitores da faixa etária do seu protagonista, a série cativou o público adulto com um olhar fresco e inocente sobre os anos de Thatcher (que Mole declara como sendo um dos seus principais inimigos) e, mais tarde, sobre os trabalhistas. Com sete livros editados, foi traduzida para quase 50 idiomas, tendo vendido mais de 10 milhões de exemplares. Números que demonstram bem o seu sucesso.
Pobreza com letras
Nascida em Leicester, em 1946, no seio de uma família trabalhadora de classe média/baixa, Sue Townsend não fez o percurso que se esperararia de uma das mais bem-sucedidas escritoras britânicas. Só aprendeu a ler aos oito anos e abandonou a escola aos 15, depois de chumbar nos exames. Mas era, e continuou a ser, uma leitora compulsiva (chegava a ler três romances por dia), mesmo enquanto trabalhava em empregos menores para se sustentar (chegou a ser despedida por ler durante o horário de trabalho). Aos 18 anos já estava casada, aos 23 era mãe de três filhos. E, desde os 14, escrevia em segredo.
Com o divórcio veio a pobreza, tendo Townsend lutado para alimentar os seus filhos. Em entrevista ao Telegraph, disse: “A pobreza arrasta-te para baixo. Prende-te. Não há movimento – não há liberdade para nos movermos. Ser pobre com três filhos pequenos é assustador. Não se pode fazer planos. Sabes que não irás de férias, jamais. Não há maneira de poderes pagar aulas de condução ou um carro. E sentia muita culpa: os miúdos tinham buracos nos sapatos e cheguei a mandá-los para a escola de galochas num dia de sol radioso”.
Sue Townsend acabou por conhecer o seu segundo marido num curso de canoagem. Foi ele que a incentivou a juntar-se a um grupo de escritores local, no Phoenix Theatre, em Leicester. Aí, em 1979, Townsend escreveu a sua primeira peça, Womberang (que ganhou o Thames Television Playwright Award e lhe valeu um lugar residente no teatro, onde assinou várias dramaturgias).
Mas foi com Adrian Mole que tudo mudou. A ideia tinha surgido uns tempos antes, num domingo. “Estava a viver numa casa da câmara, sozinha, com três crianças e três trabalhos em part-time para nos sustentar. Domingo era o dia de colapso total. Estava exausta. E o meu filho mais velho disse: ‘Por que não fazemos um safari como as outras famílias?”. Surgiu assim a voz adolescente, com pena de si própria, que viria a ser a de Adrian Mole, guião que mostrou anos depois aos encenadores do teatro onde trabalhava e que chegou assim, à BBC, onde foi transmitido na Rádio 4. Com o sucesso, chegou uma proposta para a autora transformar o guião em livro. O resto é história. E Townsend nunca mais teve de se preocupar com os sapatos ou a comida dos filhos.
Mas esta não é uma história que acaba aqui num ‘viveu feliz para sempre’. É que Sue Townsend nunca foi uma mulher saudável. Aos 23 teve uma peritonite tuberculosa e na casa dos 30 um ataque cardíaco. Aos 40 desenvolveu diabetes, que lhe foram retirando progressivamente a visão. Em 2001 foi declarada clinicamente cega, ditando os seus livros ao filho. Por esta altura, devido à artrite, já estava numa cadeira de rodas. Em 2007 um problema de rins levou-a a fazer diálise (um dos filhos acabaria por lhe doar um rim, em 2009); no ano passado teve um AVC.
Apesar dos problemas de saúde que enfrentou, Townsend, que nunca perdeu o seu grande sentido de humor, deixa para trás uma obra extensa que inclui, além dos sete livros da série de Adrian Mole (o mais recente, Adrian Mole: The Prostrate Years, publicado em 2009), seis romances, entre os quais A Rainha e Eu e A Mulher que Decidiu Passar Um Ano na Cama, 12 dramaturgias e dois livros de não-ficção. Além disso, escreveu para jornais como o Observer e o Sunday Times.