A sua resistência ao tempo é lendária e podem aguentar décadas, até mais do que um século, guardando na sua acidez o maior segredo. É esta, com efeito, que dá longevidade e também a frescura que vamos sentindo à medida que bebericamos o vinho.
O primeiro vinho que veio para a prova foi um Sercial (Barbeito) de 1898. Como é habitual num Sercial, é um vinho seco, muito elegante e de cor clara alaranjada. Revelou algumas notas de salinidade, pela proximidade do mar, e promete ir melhorando ainda mais. Os seus 45 gramas de açúcar praticamente desaparecem, e porquê? A acidez é novamente a responsável.
Passámos de seguida para um meio-seco, um Verdelho (Blandy’s) de 1887. Apresentava-se mais escuro, iodado. Revelou notas de caril e até parecia ter xarope. Mais uma vez a acidez tornou-se notada.
Entre este Verdelho e o que se seguiu, de 1850 (Pereira de Oliveira), notou-se uma diferença significativa. Evidenciou-se mais doce e mostrou as suas notas de caramelo. Destaque para o facto de este ter sido o primeiro vinho feito por Pereira de Oliveira.
Esta foi a melhor antecâmara para o vinho que se apresentou depois à prova. Um Boal de 1934, vinho já na categoria de meio-doce, a evidenciar notas de caramelo e canela. Um vinho muito elegante.
Por último, chegou-nos um Malvasia de 1900, um vinho doce, mas que a famigerada acidez consegue mascarar com magia. Este néctar da Henriques e Henriques mostrou-se fantástico e foi a chave de ouro para uma sessão histórica.
Resta agora aos leitores fazerem a sua própria incursão nos Vinhos Madeira, podendo recorrer, nas garrafeiras, aos vinhos mais antigos, como os que provámos, ou então optar pelos mais recentes. No entanto, há uma coisa a reter. Quando se fala de um Vintage Porto, ele pode ser engarrafado logo ao terceiro ano. No entanto, quando se passa para um Vintage Madeira, há a certeza de que ele só pode ser engarrafado no mínimo ao fim de 20 anos. Vale a pena provar e degustar com toda a calma estes grandes vinhos.
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