Também é preciso poupar nos elogios e nas críticas

Um amigo meu cita com muita frequência uma regra que os pais dele lhe ensinaram e que, basicamente, refere a prudência que deve existir na hora de elogiar e na hora de criticar. Por outras palavras, esse meu amigo elogia sempre menos do que porventura lhe apetecerá elogiar e critica também sempre muito menos do…

Esta prudência não será politicamente muito correcta, mas tem vantagens inequívocas, mantém portas abertas quando a situação aponta para o contrário, evita desilusões quando o cenário é euforicamente o oposto, ou seja o dos elogios, sendo condição necessária para a inclusão, enquanto o contrário é condição suficiente para a exclusão. Esse meu amigo tem por lema de vida um verso que diz que a maior dignidade humana é poupar humilhação aos outros.

Talvez este lema possa ser considerado excessivo para ser adoptado como regra a seguir nas campanhas eleitorais dos partidos políticos, mas que é um bom exemplo de conduta lá isso é, e talvez o que se ganhasse em cidadania, se fosse realmente assumido por todos quantos actuam e têm responsabilidade na vida política, compensasse o que – tenho de reconhecer – no imediato cada força política poderia perder, em especial se tal atitude não merecesse unanimidade.

Admitir que o normal, salvo algumas excepções historicamente identificadas, é que a maioria dos dirigentes de cada partido acredita sinceramente que as respectivas propostas são as melhores para o país e para as populações nele residentes, deveria ser realmente a regra e uma assumida desde logo pelos adversários políticos. As diferenças – que naturalmente existem – residem nas diferentes opções que, a cada momento, cada sensibilidade política escolhe, considerando a identificação do que entende ser possível abdicar.

Nestas vésperas de uma importante campanha eleitoral, a referente às próximas eleições para o Parlamento Europeu, gostaria de insistir na bondade de uma campanha sem agressividades gratuitas, capaz de abrir portas a eventuais entendimentos e de transmitir para o exterior a imagem de um país, e por reflexo dos políticos, que assume uma maturidade cívica que se encontra muito acima do patamar da clubite e de outros fanatismos.

Isto é muito importante para consolidar a confiança que vai começando a instalar-se na nossa economia, para possibilitar eventuais entendimentos que venham a manifestar-se como necessários e, principalmente, para não gerar impasses que, em regra, só se resolvem com novas eleições ou, não raras vezes, com soluções políticas não democráticas, que são sempre más para todos, incluindo para o mundo empresarial e dos negócios.

Sendo certo que as pessoas são sempre muito importantes e que o interesse do colectivo depende da soma de muitos contributos individuais, importa tudo fazer para evitar que alguns protagonistas da nossa vida política possam cair na tentação de se deixarem arrastar para becos sem saída no relacionamento necessário à nossa vida.

*Presidente da APEMIP, assina esta coluna semanalmente