No entanto, e apesar das taxas mais baixas, Portugal continua a pagar mais do que a Irlanda, Espanha ou Itália para se financiar, e não fica muito diferente da Grécia. No primeiro leilão de dívida de médio e longo prazo depois de sair do programa da ‘troika’, Dublin pagou uma taxa de 2,967% para colocar mil milhões de euros a dez anos. A Irlanda foi novamente ao mercado este mês, encaixando mais de mil milhões de euros num leilão de obrigações a dez anos, com uma taxa de 2,917%. Em ambas as operações, a procura quase que triplicou a oferta.
É certo que o Governo procura apresentar como êxito seu esta operação, mas então temos de concluir que o seu êxito é talvez o menor de toda a Europa. De qualquer maneira, Portugal aproveita o balanço para projectar novos leilões de dívida.
O jornal norte-americano conservador mas muito atento a todos os problemas económicos, o The Wall Street Journal, defende que a procura no leilão de hoje e a queda consecutiva das ‘yields’ da dívida nacional no mercado secundário nos últimos meses estão mais relacionadas com os sinais positivos que o BCE transmitiu ao mercado do que com o desempenho económico de Portugal. Neste aspecto, considera especialmente preocupantes o desemprego e a asfixia do mercado interno.
O que está de acordo com outros comentários também nacionais.
“A recuperação da economia portuguesa apresenta fragilidades”, aponta o relatório de Primavera do Banco de Portugal, também divulgado ontem.
E o Conselho de Finanças Públicas, presidido por Teodora Cardoso,
na sua análise à conta das administrações públicas do ano passado, também põe em causa a situação, considerando grave o aumento da dívida pública nos últimos 2 anos, a falta de reformas económicas, o o excesso de focagem nas receitas fiscais.
Como dizia ontem um comentador do Público, é extraordinário como o Governo e a troika insistem em considerar vitória pela diminuição das taxas da dívida, quando isso se deve a posições recentes do BCE e do Banco Central Alemão, há muito defendidas por quem critica as politicas de austeridade de Passos (e também da troika, mesmo sendo estas ligeiramente menores), e até agora criticadas pelos actuais governantes (que, contudo, se usam delas).