A comissão de valores mobiliários americana (a SEC) abriu entretanto uma investigação, acusando a TelexFree de ter implementado uma gigantesca pirâmide financeira, dissimulada pela venda de pacotes de comunicações VoIP (serviço de Voz sobre IP). Segundo a SEC, a TelexFree violou as leis anti-fraude dos EUA, pois funcionava através do clássico esquema da pirâmide (ou ‘esquema Ponzi’), com o pagamento dos investidores a ser assegurado com dinheiro recebido de novos investidores.
Em Portugal, o negócio entrou em força na Madeira, mas há também já muitos investidores no continente. Mediante a entrega de 1.400 dólares (1.045 euros por conta), a empresa garantia um retorno mínimo de 100 dólares por semana (400/mês). Havia a comercialização do VoIP, mas o negócio girava sobretudo à volta das comissões obtidas sobre novos recrutamentos.
Desesperados
A 8 de Março, a empresa mudou o método de compensação dos ‘divulgadores’ – designação que usa para falar dos investidores -, obrigando-os a ‘vender’ primeiro pacotes VoIP para se qualificarem para os pagamentos. No fundo, obrigou os que tinham contas antigas a pagar 44,9 dólares à empresa por VoIP, num mínimo de cinco pacotes VoIP por conta, para poder continuar a receber, num esquema menos vantajoso. O negócio tornou-se insustentável.
O site da empresa está fechado (a página telexfree.com deixou de funcionar a 15 de Abril, vedando o acesso ao back office) e estão bloqueados os saques de dinheiro através do e-wallet (carteira virtual onde os créditos eram convertidos em dólares e transferidos para contas bancárias).
Agora são milhares os ‘divulgadores’ a fazer contas à vida. Estão desesperados: a Justiça americana terá autorizado a reactivação do serviço VoIP, mas poucos o utilizam, pois o que querem mesmo é o dinheiro. E agora não sabem como reaver as quantias com o site sempre “em manutenção”.
Na Madeira houve quem tivesse pedido dinheiro ao banco ou recorrido a contas-poupança para investir no negócio.
O coordenador da PJ do Funchal, Eduardo Nunes, garantiu ao SOL que, até agora, não há nenhuma queixa ou investigação por causa da TelexFree. Já no Serviço de Defesa do Consumidor, na Madeira, segundo a directora, Graça Moniz, têm surgido cada vez mais “pedidos de informação” sobre este tipo de expedientes de venda. Todos recebem a mesma resposta: “Em Portugal, os esquemas em pirâmide são prática comercial desleal e, como tal, proibidos”.
Quatro portugueses no top
Graça Luísa, uma das líderes do negócio TelexFree em Portugal e na Europa, tem sido um dos principais alvos dos ‘divulgadores’ nas redes sociais. “Entendo que haja revolta, mas a indignação tem um nome: ignorância. Qualquer negócio tem um risco e a actividade multinível deve ser feita de forma profissional. A TelexFree não é uma empresa de investimento. Houve muita gente a fazer registos sem sequer ter tempo e pachorra para ir a reuniões de trabalho”, justificou. Graça Luísa acredita na recuperação sob controlo judicial e garante que a TelexFree “já passou” em cinco dos nove pontos questionados pela Justiça americana, entre os quais o de que não é pirâmide financeira. A audiência final está marcada para 2 de Maio.
Uma lista com os nomes dos 30 maiores credores foi entretanto posta a circular na internet – entre os quais constam quatro portugueses, três residentes na Madeira, com créditos entre 300 mil e 450 mil dólares.