O criador de moda morreu num hospital de Lisboa, no passado dia 20 de Abril, aos 64 anos, vítima de cancro na vesícula. Uma morte totalmente inesperada: há apenas 15 dias, Augustus sentiu-se indisposto e dirigiu-se ao hospital, de onde já não viria a sair com vida.
A surpresa e o choque depressa tomaram conta das redes sociais, onde os amigos e fãs quiseram prestar as últimas homenagens. Nayma Mingas, por exemplo, dedicou-lhe um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen: ‘Se tanto me dói que as coisas passem/ É porque cada instante em mim foi vivo/ Na busca de um bem definitivo/ Em que as coisas de Amor se eternizassem’. A também manequim Carla Matadinho elogiou um “estilista grandioso de Alta Costura, uma excelente pessoa, um amigo… Sem prever este trágico desfecho manifestámos os nossos sentimentos há bem pouco tempo. Beijos António, gosto muito de ti e gostarei para sempre. Ainda não acredito que partiste…”. Já a cantora Manuela Bravo, que imortalizou o tema ‘Sobe, Sobe, Balão Sobe’, disse estar “profundamente triste”. “O meu amigo António Augustus ‘adormeceu’ hoje e rumou até à eternidade. Foi o estilista que criou o meu vestido para a final do festival da canção de 79 e também o célebre vestido amarelo que levei à Eurovisão, em Jerusalém. A minha alma está triste”.
António Augusto Loureiro Ferreira nasceu a 7 de Junho de 1949, na Figueira da Foz, mas nem um mês tinha quando se mudou para Angola. Apesar de ter crescido dividido entre os dois países, foi em Angola que deu os primeiros passos na sua carreira, ajudando a mãe a desenhar roupa. Terminado o liceu em Luanda, esteve um ano em Tomar e depois rumou a Inglaterra onde estudou Relações Públicas e Turismo. No regresso a Angola, e já após a tropa, foi convidado para director da agência de viagens Star. Estava longe de saber que o seu futuro estava do outro lado da rua…
Em 1973, um casal amigo, dono de uma loja de roupa mesmo em frente à Star, teve de mudar-se repentinamente para Moçambique. Por “brincadeira” ficou com a loja. Arranjou costureiras e começou a desenhar roupa, tal como, em criança, fazia com a mãe.
A revolução de 25 de Abril de 1974, no entanto, mudou-lhe a vida, obrigando-o a deixar Angola. Ainda trabalhou em Paris, no ateliê do japonês Kenzo, mas regressou a Lisboa. Já na capital portuguesa, a mesma revolução que lhe mudou o rumo da vida, também lhe abriu os olhos para uma nova leitura que as mulheres começavam a fazer da moda. “Quando comecei a minha carreira em Portugal, a moda ainda era considerada fútil e fascista. De repente, chegámos ao final dos anos 90 e a moda já era tudo”, disse ao SOL, numa das suas últimas grandes entrevistas, em Junho de 2012.
Em 1976, abriu uma loja no centro Imaviz, bem no centro de Lisboa. Dois anos depois, o seu próprio ateliê, onde durante toda a carreira recebeu clientes que, com os anos, se tornaram amigas. Algumas destas clientes marcaram a história portuguesa, como a pintora Maluda ou a fadista Amália, com quem teve uma relação de grande cumplicidade. “A Amália era um caso especial. No palco usava uns saltos altíssimos e tínhamos de lhe fazer uma falsa cintura, mais abaixo do que era a cintura dela, para equilibrar com a saia. Era um segredo que só eu e mais duas ou três pessoas sabiam”.
Em 1979, esteve em destaque no Telejornal da RTP ao fazer o primeiro desfile a bordo de um avião da TAP, rumo a Ponta Delgada. A ousadia valeu-lhe publicidade a nível nacional e impulsionou ainda mais a sua carreira. “As pessoas passaram a lembrar-se do meu nome”.
Trabalhou com manequins internacionais, como as alemãs Claudia Schiffer e Karen Mulder, ou a francesa Laetitia Casta. Mas a sua manequim mais especial foi Maria José Ritta, mulher do então Presidente da República Jorge Sampaio, que desfilou para si em 2002, no Casino da Figueira da Foz.
Nos últimos anos passava um mês em Portugal, outro em Angola, dividido entre as três lojas e o ateliê em Lisboa e em Luanda. A verdade é que o seu coração esteve sempre dividido entre Portugal, Angola e a Colômbia, país de origem da mulher, Clara, mãe das suas duas filhas, Bianca e Raquel. “Acho que sou um cidadão do mundo”, disse em tempos.