Já me pronunciei avesso a estes concursos. Quando estudei Fiscal, ainda se viviam tempos em que era consensual pôr-se a ética a temperar a eficácia pura. Por isso, se fazia os contribuintes mais ricos pagarem mais do que a imensa classe que de facto contribui para as receitas do Estado. E não havia facturas fiscais (como continua a não haver nos países mais civilizados).
Ora a factura da sorte tem vários aspectos anti-éticos: primeiro, põe contribuintes a fiscalizarem outros contribuintes, como bufos; depois, beneficia os mais ricos, com mais facturas a concurso, e com dinheiro para pagarem os seguros dos carros a ganhar; em seguida, dá uma ideia errada de anti-austeridade, com o tipo de carros sorteados, a contrastar com a austeridade imposta aos contribuintes mais frágeis.
Finalmente, os exemplos de inspiração são deploráveis: o Estado de São Paulo, no Brasil (que dá dinheiro, o que cá é impossível, por ser competência exclusiva da Santa Casa da Misericórdia), outros casos, sobretudo na América Latina (houve programas semelhantes na Argentina e Colômbia, e também em Porto Rico há concursos regulares), a China (com raspadinhas e lotarias de facturas) e Taiwan (onde esta é uma tradição enraizada, que começou há 63 anos).
E agora mais isso: ilegal! Mas quem trava este Governo?