A saída limpa-suja

Parece confirmar-se que o nosso Governo vai ter de conformar-se com a saída sem plano cautelar, não porque o deseje (como a certa altura parecia), mas porque os parceiros europeus não aceitam outra coisa.

Começou por se saber da oposição da Finlândia e da Áustria ao plano cautelar – aparentemente por não confiarem nas políticas do Governo, que tanto aumentou a dívida pública nos últimos 2 anos (como tem sido referido nos relatórios surgidos esta última semana, do Banco de Portugal e do Conselho de Finanças Públicas, ou num comentário do conservador Wall Street Journal). Depois constou que a própria Alemanha tinha advertido de que não estava segura de que o cautelar passasse no seu Parlamento, o qual necessariamente apreciaria a proposta. Finalmente, ontem, a imprensa noticiou que o Eurogrupo, reunido na véspera, se pronunciara pela opção sem cautelar, aproveitando o facto dos juros das dívidas públicas europeias estarem baixos (e mesmo os da portuguesa, num nível semelhante aos da Grécia, e acima de outros como os da Irlanda, Espanha ou Itália, não distarem muito dos que seriam definidos num programa cautelar).

Claro que a decisão ainda não foi oficialmente anunciada. Segundo Passos Coelho, sê-lo-á antes da próxima reunião do Eurogrupo, a 5 de Maio. Talvez após um Conselho de Ministros extraordinário a realizar no próximo fim-de-semana (já que se considera difícil ter uma deliberação, no Conselho de Ministros de amanhã, antecipado por 5ª-feira ser o feriado do 1º de Maio).

Continua-se a chamar-lhe saída limpa, mas é cada vez mais suja, e sob controlo apertado. Até porque a dívida pública não pára de subir, e tem de ser contida – ao mesmo tempo que a época eleitoral e a nova visão europeia impõem crescimento económico e combate ao desemprego, o que torna tudo mais complicado.