Biquíni já não tem sotaque

Os modelos de biquínis e fatos-de-banho mais sensuais foram sempre associados ao Brasil. Mas nos últimos dois anos surgiram inúmeras marcas nacionais que repensaram o visual das jovens portuguesas na praia. As redes sociais ajudaram a que estes negócios vingassem mais facilmente.

– Vou ao Brasil, queres que te traga alguma coisa?

– Traz-me um biquíni.

Até há bem pouco tempo esta era uma conversa recorrente. Quantas vezes se ouviu a história da amiga que ia ao Brasil e voltava com a mala recheada de biquínis para vender às amigas? As marcas portuguesas de roupa de praia eram poucas e as que existiam dirigiam-se a um público mais convencional.

O cenário, porém, começou a mudar há cerca de dois anos. Novas marcas de roupa iam aparecendo no horizonte, e graças a fenómenos como o Facebook encontraram forma de chegar a potenciais clientes, afirmando-se assim no mercado. A área da roupa de praia é justamente uma daquelas onde têm surgido mais novidades.

Há criações mais minimalistas e sofisticadas, como a Latitid e a Bohemian Swimwear; outras mais étnicas, como a Papua; outras mais românticas como a B.Kini, a Type ou a Sardina; e ainda a recém-lançada S4L. Algumas destas marcas desejavam um desafio empresarial, mas a maioria nasceu para dar resposta às próprias necessidades das suas fundadoras.

A Cantê Lx foi uma das primeiras a ver a luz do dia. E partiu justamente do fascínio que as jovens portuguesas sempre tiveram pelos biquínis brasileiros. Apaixonadas por moda, as amigas Rita Soares e Mariana Delgado já tinham feito vestidos de noiva. Estudaram arquitectura no ISCTE e, no final do curso, fizeram uma viagem a Floripa, no Brasil, que acabaria por lhes mudar a vida. «Sempre adorámos moda e praia. Durante essa viagem começámos a sonhar…», recorda Rita. «Sentíamos que não havia uma marca em Portugal – isto em 2010 – que proporcionasse moda de praia diferente. Então decidimos fazer um teste, em paralelo com o trabalho de arquitectura, que foi desenvolver uma linha de fatos de banho, triquínis e biquínis à nossa imagem», acrescenta Mariana. E o que começou por ser um hobby, tornou-se a ocupação principal das duas amigas.

Com um investimento inicial de cinco mil euros, criaram uma primeira colecção. O nome, esse, descobriram-no no dicionário. «Encontrámos a palavra Cantê, que significa ‘oxalá’, ‘se Deus quiser’, e fez todo o sentido. Estávamos a começar e, se Deus quisesse, iria correr bem!», explica Mariana.

O sucesso foi tal que nunca mais pararam – no Inverno dedicam-se a preparar a colecção seguinte e ainda fazem linhas de bodies e tops. Hoje vendem no seu showroom em Belém, em algumas lojas no Norte e preparam-se para abrir uma loja online. Os suportes online, aliás, parecem ter sido fundamentais para que, numa altura de crise, aparecessem tantas novas marcas. «As redes sociais foram as ferramentas que usámos para lançar a Cantê e angariar uma rede de fãs e seguidoras da marca. Sem as redes sociais, demoraria muito mais tempo para qualquer marca chegar ao seu target. As redes sociais permitem que tudo seja mais rápido», diz Mariana.

Esta é uma ideia partilhada por estas novas marcas. «O desenvolvimento da marca passou a ser substancialmente mais barato com o aparecimento do Facebook, sendo que as marcas conseguem evoluir e mostrar o seu trabalho de uma forma abrangente e mais espontânea, com custos inferiores», explicam Marta Santos e Nuno Leitão, da Papua.

A marca nasceu no início de 2012 e reflecte uma assolapada paixão por viagens. «Juntámos a nossa paixão por viagens e praia com um nicho de mercado por explorar. Percebemos que os dias de sol por ano e a paixão das portuguesas pela praia era inversamente proporcional à oferta existente».

Ao contrário da esmagadora maioria destas marcas, este não é um negócio de amigos, mas antes de namorados. E que nada tinham que ver com moda: ela é marketeer e ele advogado. Apesar da falta de experiência na área, investiram numa equipa de designers e costureiras que acreditam ser o que os diferencia, juntamente com «padrões exclusivos e pormenores étnicos».

Em Portugal, a marca abre este mês a sua primeira loja. Até agora era vendida sobretudo em www.papua.pt e no Facebook. «O aumento da nossa produção, a rondar os 150%, tem sido essencial para a internacionalização. A par do mercado português, já estamos em França, na Suíça e na Holanda».

A exportação é também uma das prioridades para a Latitid, a excepção à lógica geográfica destas marcas. É que a Latitid chega do Norte do país. Aliás, a colecção de estreia, lançada no Verão passado, foi justamente inspirada no Porto. «Quisemos criar uma marca nacional de olhos postos no mundo e queríamos que o nome representasse isso mesmo. Latitid é uma variação da palavra Latitude. Todas as colecções terão uma latitude diferente. O ano passado foi o Porto, este ano a cidade de inspiração foi Barcelona», conta Inês Fonseca.

A Latitid é um negócio de família: Marta e Inês Fonseca são irmãs, Fernanda Santos, a terceira sócia, é a sua tia. Queriam aventurar-se num negócio onde pudessem combinar as suas mais-valias: os conhecimentos de gestão e marketing de Inês, a criatividade de Marta no campo da moda – área em que se formou e onde já recebeu várias distinções, como o prémio do Triumph Inspiration Awards ’08 e o 1.º prémio dos Jovens Criadores Modtissimo 2009 -, e a experiência da tia Fernanda, empresária há 25 anos na área têxtil, produzindo para marcas internacionais, como Dior, Kenzo e Marc Jacobs.

Fazendo fé nesta experiência, é a marca que maior investimento inicial fez: 40 mil euros, tendo actualmente uma loja em Lisboa e outra no Porto. Espaços que consideram fundamentais para o crescimento da marca: «As redes sociais são uma rampa de lançamento para novos negócios, no entanto, a longo prazo não são suficientes. Temos assistido a uma grande afluência às nossas lojas, onde as pessoas procuram um contacto mais personalizado. Antigamente era mais difícil lançar uma marca, hoje é mais difícil sustentá-la a longo prazo».

Em busca do biquíni perfeito

Vanessa Martins, Joana Freitas e Jessica Athayde são algumas das jovens modelos e actrizes que têm dado a cara pela Bohemian Swimwear. Joana é o rosto da colecção deste Verão e Vanessa desenhou uma linha em seu nome. Em pouco mais de um ano, desde que foi criada, a marca de Erica Bettencourt, formada em Design Gráfico, já se tornou conhecida no meio. E, para isto, muito ajudou a associação a estas caras conhecidas. «Mulheres como a Jessica Athayde e a Joana Freitas têm um corpo fantástico e imenso estilo, mas não o podiam mostrar da forma acertada porque não tinham marcas que as fizessem brilhar na praia».

Apaixonada por praia e por surf, Erica habituou-se a viajar em busca da onda perfeita. Nessas viagens, deu por si em busca do biquíni perfeito, que não encontrava em Portugal. «As mulheres em Portugal, tinham poucas opções e cortes europeus gigantes e pouco femininos. Hoje em dia, a mulher portuguesa já cuida imenso do corpo, vai ao ginásio regularmente, faz detox e dietas, mas depois, no Verão, quer usar aquele biquíni ou fato de banho que permite mostrar o esforço feito durante o ano inteiro e não tem uma linha que a satisfaça. Acho que é por essa razão que surgiram mais marcas de swimwear».

Erica investiu 20 mil euros e criou a Bohemian Swimwear, um elogio às mulheres e a um estilo de vida livre e sexy. «Criei uma linha com modelos para todas as pessoas: mulheres com formas, mães trendy, pessoas com pouco peito ou uma anca larga… Todos os modelos procuram explorar essas formas da melhor maneira».

Com pontos de venda no site www.bohemianswimwear.com, no showroom Capricciosa Beach Lounge, na Praia de Carcavelos, e em lojas em Lisboa, Quinta do Lago, Faro e Coimbra, Erica começa também a pensar em exportação. Mas antes disso tem outro desejo: «Gostava muito de fazer fatos de banho de criança». Enquanto tal não acontece, há duas semanas apresentou as suas criações no Hotel Ritz, em Lisboa.

raquel.carrilho@sol.pt