A cirurgia do vinho

Na margem direita do rio Douro ergue-se a velhinha freguesia de Provezende, outrora concelho, mas que perdeu este título a favor de Sabrosa. A sua história remonta ao século XI e foi bem agitada. Tomada pelos mouros e mais tarde reconquistada pelos cristãos, foi depois doada aos congregados de Santa Marinha por D. Afonso Henriques,…

Em 1998, decide-se pela plantação de uma vinha com 3,5 hectares, situada a 600 metros de altitude e destinada apenas à produção de vinho branco. Três anos depois, investiu nos tintos e comprou uma propriedade de cinco hectares, perto do leito do rio, estendendo-a actualmente a um total de dez. Depois de ter começado a comercializar os seus vinhos, em 2006, hoje já atinge as 15.000 garrafas, que chegam ao mercado pela mão do enólogo Jean-Hugues Gros.

Após tudo isto, não resisti a ir provar brancos e tintos, para confirmar se o cirurgião Jorge Tenreiro tinha feito boa opção. Com o nome de Quinta do Cume, a primeira prova incidiu sobre o Reserva Branco 2011, que recebeu 90 pontos na apreciação do consagrado e influente crítico norte-americano Robert Parker. E eu, que não sou consagrado, muito longe disso, rendi-me e acompanhei o meu ‘colega’ norte-americano na distinção. Com um bom ataque na boca, encorpado, elegante e com a tal frescura e acidez que é dada pelo terreno xistoso a 600 metros de altitude. Com quase 85% de Malvasia Fina, mostrou-se um grande vinho. Seguiu-se outro Reserva Branco, este de 2012 e que está agora a chegar ao mercado. Com aromas cítricos, madeira nova e baunilha (estagiou 30% em carvalho francês), revela-se um vinho mineral e de grande elegância.

Partimos depois para os tintos e para o entrada de gama, o Selection 2011, das tais vinhas junto à água e feito com Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz. Frutos pretos maduros e ligeira tosta de madeira abriram caminho para uma boa concentração e macieza na boca. Sucedeu-lhe o Quinta do Cume Reserva 2011, que tem as propriedades do anterior, mas muito mais refinadas, revelando um final de boca longo e persistente.

Finalmente, eis-nos chegados ao Grande Reserva 2011, feito agora pela primeira vez. Chegará ao mercado sensivelmente daqui a um mês, mas vale a pena esperar. É um vinho com muita complexidade e volume e apresenta-se equilibrado. Está bem casado com a madeira e tem muita frescura. Vinhas velhas com castas misturadas (Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz). Grande vinho. Grandes vinhos!

Quinta Do Cume Tinto Reserva
Ano: 2011
Região: Douro
Castas: Touriga Franca (40%), Touriga Nacional (40%) e Tinta Roriz (20%)

Quinta Do Cume Branco Reserva
Ano: 2012
Região: Douro
Castas: Malvasia Fina, Rabigato e Viosinho

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