No meu tempo na Universidade, em Lisboa, não havia praxes, nem trajes académicos. Parece que a ascensão à Universidade de novas classes, e a sua positiva democratização, levou a um aspecto mais negativo: o dos trajes académicos, ostentados orgulhosamente por quem nunca tinha visto na sua família nada relacionado com frequências universitárias, e o das praxes, que dá o prazer da superioridade e da capacidade para infligir humilhações aos mais novos, por parte de pessoas dessas, e depois com maior radicalismo, por parte do ex-humilhados. No meu tempo, qualquer universitário progressista, ou mesmo não progressista, mas interessado nos estudos universitários e na cultura humanista, recusaria tais práticas, e lutaria contra elas. Hoje generalizaram-se, com os efeitos desastrosos conhecidos (e que vão desde traumatismos de vária ordem, até à morte de estudantes).
Pois qual foi a minha admiração quando li ontem nos jornais que fora o CDS a propor legislação para o fim dessas praxes, convencido de que o fazia com o acordo do PSD. A inspiração do CDS nem era de direita: fora um diploma aprovado em França, em 1998, por proposta da ministra socialista Ségolène Royal (a tal ex-namorada de Hollande, e sua concorrente preterida na corrida à Presidência). Pois da proposta do CDS só foi aprovada uma parte – que recomenda ao Governo para punir praxes humilhantes –, e apenas com os votos centristas, e a abstenção do resto do Parlamento (PSD e oposições); a outra parte da proposta – que recomendava a punição de crimes cometidos nas imediações das escolas – foi rejeitada.
E, nas praxes, até o nome é errado, porque não me ocorre qualquer tradição dessas em Lisboa; quanto ao traje académico, é um a cópia que vem de fora, de Coimbra, e de outros tempos em que era justificado. Como é que este reaccionarismo serôdio é apoiado pelo PSD e pelas esquerdas?